quarta-feira, 7 de maio de 2014

Bom Dia Alentejo, Semana Santa, Aldeia da Mata, as Endovenças que sim, que Povo o Salvador que o festejava

 

A festa da Semana Santa era feita entre nós com muita religiosidade, e foi por isso que as Endoenças em Aldeia da Mata não eram só conhecidas nas redondezas, como também em terras distantes. Alguém afirmou que as Endoenças metiam mais gente do que as festas que se têm cá feito pelo Verão.
As cerimónias dividiam-se assim pelos dias de festa. As velas da igreja só se acendiam Sábado da Aleluia.
Quando apareciam as Aleluias, tocava-se a metrécula (matraca). Os sinos que se deixavam de ouvir em toda a Quaresma voltavam a tocar depois de aparecerem as Aleluias. À Festa das Endoenças não podia faltar uma comissão e um dos trabalhos que tinham era pedir todos os Domingos pela manhã às portas das pessoas.
As ofertas que recebiam eram fatias de pão e legumes. O dinheiro das esmolas destinava-se à festa do ano seguinte.
As opas que os festeiros levavam vestidas na procissão eram brancas com gola azul. Na Irmandade do Santíssimo iam vestidos com opas pretas, representando os doze Apóstolos.
Depois deste apontamento não posso deixar ficar sem contar o seguinte: na cerimónia da igreja quando se cantava as Trevas, fazia-se a seguinte brincadeira: quando os padres faziam barulho batendo no livro, os fiéis também faziam, só que era com pedras batendo no chão. Mas os homens e gaiatos, aproveitando esse barulho e o apagar da luz, pregavam as saias das mulheres ao chão, que nessa altura era de madeira. Como as saias eram compridas, a brincadeira resultava.

Quarta-feira de Trevas - Cantavam-se as Trevas e, em certa altura da cerimónia, as pessoas que iam munidas de uma pedra batiam com ela no chão acompanhando assim os padres que, que ao terminarem o ofício, faziam um ruído batendo no livro, ao mesmo tempo que se apagavam todas as luzes.
A festa nesse dia terminava com o sermão a propósito.

Quinta-feira - Nesse dia fazia-se a cerimónia da missa com o sermão de Lava-Pés.

Sexta-feira da Paixão - Faziam-se as cerimónias da Paixão e Morte do Senhor e, durante a procissão, cantava-se a padeirinha. De seguida, as três Marias juntavam-se perto do Senhor que está no esquife, e com Nossa Senhora das Dores ao pé e os anjinhos. Seguia-se o sermão alusivo ao enterro do Senhor.
Sábado da Aleluia - Apareciam as Aleluias às 10 horas da manhã, e tiravam-se os panos roxos que cobriam as imagens, e os sinos tocavam durante muito tempo. À noite havia uma procissão a que davam o nome de “procissão de toucinho assado”. E à noite, como de costume, havia sermão.

Domingo de Festa - Havia missa ao meio-dia, e à noite os grandes arraiais no Terreiro e no Santo António.

Segunda-feira de Páscoa - Neste dia fazia-se a festa na ermida de S. Miguel, mas com o nome de festa da Nossa Senhora dos Remédios para onde toda a gente pela manhã partia em romaria. A partir deste dia, poucos domingos passavam que não houvessem arraiais nos sítios habituais.

A esmola para o Santíssimo - As esmolas para o Santíssimo eram ofertas do povo para a ajuda da Festa das Endoenças. Para recolher essas esmolas era escolhido um homem entendido que tinha a missão  de dar a volta à nossa terra – Aldeia da Mata – nos domingos de manhã, recolhendo do povo, tigelas de feijão preto, raiado e milho.

Mas o que o povo dava mais eram as fatias de pão de trigo, de milho e centeio. À saída da missa de domingo eram leiloadas as ofertas desse dia, e o lugar do leilão era a curva da Igreja do Terreiro.
À saída do pessoal da igreja, o leiloeiro lá esperava no lugar do costume até estarem todos reunidos, para depois começar a gritar: -Quem dá mais pela esmola do Santíssimo? Assim, com este pregão repetido dezenas de vezes, e com um povo agarrado às grandes e lindas Festas das Endoenças, domingo nenhum ficaram por vender as esmolas para o Santíssimo.

Uma padeirinha de fama - Pelas festas da Semana Santa, a padeirinha que teve mais fama na nossa terra foi a Senhora Rosária Calado., mais conhecida por Rosária calada. Os antigos comentam que, quando a festa andava na rua, ouvia-se esta padeirinha cantar aos Chaparrinhos. Os antigos também comentam que às festas vinham muitos forasteiros, e quando a padeirinha cantava não se ouvia uma mosca, fazia-se um silêncio profundo.
  Fonte: A Nossa Terra, João Guerreiro da Purificação, Associação de Amizade e Terceira Idade, Aldeia da Mata, 2000