terça-feira, 28 de abril de 2015

Bom Dia Alentejo, Cabeço de Vide, O Cruzeiro de Castelo de Vide, Espírito Santo a diz presente que na terra da Fronteira


O cruzeiro de Cabeço de Vide, ou do Espírito Santo, ergue-se diante do pequeno templo da mesma invocação, que também deu nome ao largo onde se situa.
Uma obra do séc. XVI, e como relata Luís Keil é composta por "uma coluna simples de mármore, assente sobre quatro degraus de forma rectangular, com capitel sobre o qual está uma cruz de braços largos, com a imagem de Cristo de um lado, e do outro, Nossa Senhora da Piedade, sobrepondo-a a pomba simbólica do Espírito Santo".

O cruzeiro assenta num soco de três degraus quadrados, de arestas boleadas e é composto por coluna da ordem toscana: base moldurada, coluna de fuste cilíndrico liso, e capitel formado por coxim simples e ábaco quadrado.
No caso presente, o coxim é decorado com estrias ou caneluras. Sobre o capitel destaca-se a cruz, pateada, de perfil achatado e braços largos. Na frente e no verso do braço inferior estão figurações de Cristo e da Pietá, sendo ambas encimadas por uma pomba, representação do Espírito Santo, rematando o braço superior da cruz.

Apesar do carácter renascentista do conjunto, patente na utilização de uma ordem romana, as esculturas são consideravelmente arcaizantes, submetendo a composição a regras medievais (como se pode ver na Pietá, onde a Virgem é maior que Cristo).
Note-se ainda o tratamento pouco fluido dos panejamentos, o talhe mais superficial, recordando o trabalho na madeira, e o carácter monolítico das figuras, denotando obra de factura regional e menos sofisticada, embora plena de sentimento.
Fonte: Direção-Geral do Património Cultural

domingo, 26 de abril de 2015

Bom Dia Alentejo, Castelo de Vide, a Estátua de D. Pedro V, o povo lá o reconheceu

 
A iniciativa, ela levou algum tempo a concretizar-se. Em 1863 - mes compadres e minhas comadres - Victor Bastos foi contratado para a construção da estátua, que somente foi concluída em 1866. É em mármore das terras de Estremoz que assim vos direi e foi obra do artista Manuel das Dores.

Foto: Jorge Bastos, https://www.flickr.com/photos/9480263@N02/5187955092/
Está erguida sobre um alvíssimo pedestal a estátua de D. Pedro V, destinada a assinalar a visita que o Rei fizera a Castelo de Vide, no dia 7 de Outubro de 1861, cerca de um mês antes de morrer, perpetuando deste modo a memória de um rei que apelidou Castelo de Vide de "Sintra do Alentejo".
O monarca fora recebido na região com provas de grande estima por parte da população, e a notícia do seu falecimento causou grande consternação.
Foi inaugurada em 29 de Setembro de 1873. Situa-se no centro Praça D. Pedro V, assim mes compadres e minhas comadres.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Bom Dia Alentejo, Évora, Fonte do Largo de Avis, a Fonte da Porta de Avis

A Fonte da Porta de Avis originalmente situada no Largo da Porta Nova, terá sido construída pela vontade do cardeal-infante D. Henrique, em data posterior a 1573, durante o reinado de D. Sebastião. Esta fonte é tradicionalmente atribuída ao arquitecto Afonso Álvares, então conservador do cano da Água da Prata e autor do Chafariz da Praça do Giraldo. No entanto, não será de afastar a possibilidade de intervenção, ou mesmo de desenho, do seu assistente e mestre de pedraria, Mateus Neto.
 
A construção desta fonte insere-se na rede distribuidora do Aqueduto da Prata, tendo sido edificada no âmbito no plano de D. Henrique, que visava modernizar as estruturas de bastecimento de água à cidade, construídas no reinado de D. João III.
Em 1886 o Município alterou a sua localização original, o que voltou a acontecer em 1920, época em que foi transferida para o Terreiro da Porta de Avis, onde actualmente se encontra. No entanto, estas sucessivas deslocações provocaram alguns estragos, principalmente ao nível das proporções, agora mais diminuídas (ESPANCA, Túlio, 1966).
Assim, - pois para terminar compadres, assim pois para terminar - a taça apoia-se numa base quadrangular de três degraus, a partir da qual se desenvolve a fonte em forma de pirâmide, com remate ovalóide. Em 1965 a Câmara beneficiou a fonte, pelo que esta recuperou então a distribuição da água através das gárgulas antropomórficas originais, em bronze.
 

terça-feira, 21 de abril de 2015

Bom Dia Alentejo, Topónimo de Avis, Avis, a rainha já andava pelos céus

 
O topónimo não foi tirado da designação posterior da Ordem de Calatrava, fundada pelos monges de Cister, mas, pelo contrário, a referida Ordem é que tomou o nome de AVIS por lhe ter sido doado este lugar por D. Afonso II, em 1211 notando-se que o respectivo castelo foi construído no tempo deste mesmo rei, sendo-lhe posterior a fundação da vila.
(Dos Topónimos e Gentílicos, de Xavier Fernandes, Vol. II – (1944) – Pág. 274).
 
Esta vila cabeça de comarca, e da Ordem Militar de São Bento instituída por El-Rei D. Afonso Henriques estando em Coimbra pelos anos de 1162. Seu primeiro seminário fez em Coimbra; daqui passaram para Évora com a invocação de S. Miguel, cujo antiquíssimo tempo ainda hoje permanece dentro do castelo daquela cidade.
De Évora – amigos meus do mundo – se mudaram os cavaleiros para um lugar alto fronteiro dos mouros, o que (segundo Fr. Bernardo de Brito, livro V da Crónica de Cister pág. 317) foi chamado AVIS, porque indo os descobridores buscando sítio para fazerem a fortaleza, acharam ali postas duas águias em uma azinheira, e como os antigos tinham estas aves favoráveis em seus augúrios, determinaram lançar os fundamentos junto do lugar donde se achavam, e daqui, se tomou o nome de AVIS que em latim quer dizer Ave, e a trazerem os cavaleiros desta ordem em seus selos, e pendões por divisa. Era a forma do seu hábito um escapulário curto com capelo de cor preta.
(Do Dicionário Geográfico, do padre Luís Cardoso – tomo I – (1747) – Pág. 649).
 
 
Foi D. Fernando Rodrigues Monteiro e outro cavaleiro que buscando por ordem de D. Afonso II em 1214 segundo uns e em 1243, segundo outros, um lugar próprio para edificarem povoação, onde devia ter a sua sede a ordem de S. Bento, escolheram este sítio em frente de Vaiamonte e diz-se que lhe deram o nome de AVIS, porque o primeiro facto que lhe chamou a atenção foi verem de voar de uma azinheira, colocada no ponto mais alto do lugar escolhido, duas águias que ali tinham seu ninho, o que para eles foi de bom agouro.
Quando se edificou o convento, lançando-se-lhe a primeira pedra em 1223, também se construiu o castelo e foi este o começo da vila.
(Do semanário estremocense Brados do Alentejo, de 1932).

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Bom Dia Alentejo, Marvão, a Lenda do Rio Sever, a galantaria que começava

Eis a lenda que, com mais ou menos variantes, a tradição nos transmitiu:
Em distante e já remota época, numeroso e escolhido cortejo de damas e cavaleiros, de longada para as bandas de Castela, resolve descansar das fadigas da jornada junto às margens do rio e no sítio onde mais fácil se torna a sua passagem a vau.
Ao pretender, porém, recomeçar a viagem, quando as damas se preparavam para compor os seus vestidos e alisar os cabelos desgrenhados pelos solavancos da travessia através dos ásperos córregos e do pedregoso trilho dos rústicos caminhos viram, com desconsolada surpresa, que em nenhuma das escouradas arcas de bagagem se encontrava um espelho, objecto tão necessário às mais novas e tafús e que havia esquecido na azáfama confusa da partida.
Compreender-se-á o desespero em que esse facto lançaria as entristecidas e contrariadas damas, tão ávidas de bem parecer e para as quais o espelho é o mais dilecto, necessário e indispensável companheiro.
 

Diz-se mesmo – mes compadres e minhas comadres - que em algumas delas tal contratempo se denunciava por mal contidas e furtivas lágrimas, que não passaram despercebidas ao olhar atento e enamorado de um gentil moço e garboso cavaleiro da comitiva. Pressuroso e cortês acudiu este procurando remediar a contrariedade das aflitas damas, lembrando-lhes que não havia, em verdade, motivo para se entristecerem pois que, para substituir o espelho tinham elas ali bem perto um belo rio de SE VER.
Para comemorar a gentil lembrança do moço fidalgo e como prémio e agradecida homenagem à sua tão feliz e oportuna ideia puseram, então, as damas ao sítio onde haviam estado a pentear-se o lindo e romântico nome de «PORTO DOS CAVALEIROS», nome que ainda hoje lá se conserva e que a tradição liga a esta lenda tão perfumada de cortês e graciosa galantaria.
Fonte: Alexandre de Carvalho Costa, Marvão, suas freguesias rurais e alguns lugares, Câmara Municipal de Marvão, pág.49-50, 1982

sábado, 18 de abril de 2015

Bom Dia Alentejo, Vocabulário Alentejano, a Língua Alentejana, a um modo de dizer que a falar


A
Abarruntér – gabar-se excessivamente.
Abêbra – figo negro.
Abelhêra – ligação amorosa extraconjugal.
Abesprão – rezingão; pessoa que fala com violência verbal.
Abobrado – diz-se do terreno saturado de água; embebido em água ou noutro líquido.
Acabamento – almoço ou jantar oferecido por um patrão no final de uma tarefa agrícola ou na conclusão da construção de uma casa.
Acabar com chiadêro – assassinar.
Açafate do vegente – adolescente que pretende ter comportamento de adulto.
Acalitro – eucalipto.
Acanaviédo – com fraqueza corporal; alquebrado.
Acarrado – amodorrado; febril.
Acarrêto – carga; frete.
Acincho – anel de metal que serve de forma para os queijos.
Açucre – açúcar.
Adjunto – multidão.
Advertemento – divertimento.
Advertir-se – divertir-se.
Afaiancar – coxear.
Afaiancar a perna – coxear.
Aforralhar – poupar dinheiro.
Afracoar– afrouxar; fraquejar.
Água de seu pé – água que corre naturalmente, por efeito da gravidade.
Aguado – espantado; perturbado.
Aguçér – despertar.
Aguçoso – diligente.
Aivado – coxo; aleijado.
Alacado – magro; enfraquecido.
Alcacêro – forragem para os animais; alface.
Alcaide – pessoa que se julga superior, sobranceira.
AlcandórnoL – lugar alto.
Alcatruzes – seios com um tamanho considerado excessivo.
Aldeagar – falar sem sentido; difamar.
Alecrenço - licranço (réptil).
Alemel – animal.
Alganaças – rapaz alto e magro.
Algarve– fenda em solo calcário.
Alguêro – argueiro; defeito num ser humano.
Alinterna – lanterna.
Almariédo – doidivanas.
Almêja – amêijoa.
Alpragatas – sapatilhas; alpercatas.
Altebenque – assento em madeira com costas para várias pessoas.
Altos – primeiro piso de uma casa.
Alvísseras – canto em honra da ressurreição de Jesus Cristo.
Amar a Deus de bêço caído – cumprir uma tarefa difícil.
Amargar o cu c`mò pupino – ter um feitio difícil.
Âmbria – fome.
Amesentar-se – sentar-se; instalar-se.
Andanço – epidemia.
Andar à cata da rolha – procurar desesperadamente alguma coisa; não saber como reagir perante uma situação problemática.
Andar cà Lua cabrêra – embirrar sem razão; andar desnorteado.
Andar do cu P`à porta – estar zangado, com as relações cortadas.
Andar na beca – trabalhar arduamente.
Andar nas carvalhadas – viver na boémia.
Apaixonado – possuído de grande tristeza.
Apalançar – pedir ou perguntar a várias pessoas.
Aparadêra – parteira.
Apartar o fatinho – separar-se; divorciar-se.
Apartar o fato – separar-se; divorciar-se.
Apatetado – esclerosado; em decadência física e mental.
Apertar – torturar; obrigar a dizer.
Aquartelér – acautelar; cuidar; guardar.
Arco-da-velha – arco-íris.
Arejós – guizo.
Arencú – pirilampo.
Armar-se em pangaio – armar-se em esperto.
Arnela – ânimo.
Arraia – escândalo; discussão acesa.
Arranguêlha – velhaco; ruim.
Arráte – arrátel.
Arrebena – estábulo.
Arrebentédo– exaltado; irascível.
Arrecuas, às – ao contrário; de marcha atrás.
Arreganhar os dentes – mostrar-se zangado; repreender.
Arregoar – abrir fendas nas paredes
Arrelampar-se – zangar-se.
Arrelampédo – zangado.
Arresôra – rasoira.
Arriba – para cima!
Arriêta – rédea.
Arrife – socalco; talhão.
Arruína – desgraça.
Arvela – pessoa de pequena estatura, baixa e magra; pessoa leve.
Asada – cântaro de barro com duas asas.
Asnêra – mula filha de uma burra e de um cavalo.
Assadura – febra de porto para fritar ou assar.
Assarampantar-se – zangar-se; amuar.
Assevacado – com falta de ar.
Assomar – espreitar.
Assuã – espinha dorsal do porco.
Astrever-se – atrever-se; ter a ousadia.
Atabafado – com falta de ar.
Atabefe – líquido remanescente após a feitura do queijo fresco.
Atalondrado - com fraqueza corporal devido ao calor extremo.
Até os cães enjeitam - que ninguém gosta de ouvir.
Ater-se a sapatos de defunto – contar com a ajuda dos outros; confiar em vão.
Atravêsso – atalho.
Avançarrado – decidido; ousado; temerário; audaz.
Aventar – deitar fora.
Aventar c`os aparelhos ao ar – zangar-se; responder de forma intempestiva.
Avesar-se – habituar-se.
Avesédo – habituado.
Azevia – bofetada.
Aziédo – com tendência para algo de negativo.
Azoado– tonto; com ligeira dor de cabeça.

B
Badal– conversa.
Badameco – pessoa que não cumpre a sua palavra.
Badana – trabalho aborrecido.
Bafrunhêro – bisbilhoteiro; curioso.
Baixos – rés-do-chão de uma casa.
Baja – vagem.
Bajunca – cova; buraco fundo.
Bajôja – pessoa desajeitada ou com pouca inteligência.
Balalaicas – sapatilhas de enfiar no dedo do pé.
Baldões, aos – sem apoio.
Balenque – baloiço.
Balhanas – simplório; pateta.
Balhar as tropecinhas – manifestar-se alegre.
Baluerna – confusão.
Balsas – silvas.
Balsêrão – terreno invadido pelas silvas.
Bandolêro – bisbilhoteiro; coscuvilheiro.
Bandonêsa – cesto da costura.
Banzalho – desordem; barafunda.
Barba – queixo.
Barbêro – frio atmosférico intenso.
Barrambana – cabana; barranca.
Barranhão – indivíduo que come muito; prato comido por várias pessoas de uma única travessa ou bacia.
Barrôco - vala.
Bataréu – botaréu.
Bater c´as orelhas no masseirão – comer.
Bater com eles numa lata – não ter dinheiro.
Batêta te vai! – interjeição usada quando alguém perde uma oportunidade.
Beca – trabalho.
Bechêra – ligação amorosa extraconjugal.
Bêjo duma velha – dor sem pouco intensa.
Belga – pequena porção de terreno onde se cultiva uma única espécie agrícola.
Belhardêro – coscuvilheiro; excessivamente curioso.
Bem-asado – jeitoso.
Berdigagem – objecto velho e estragado.
Berzundela – festa; banquete.
Besguenga – bugiganga; objecto sem importância.
Bíbaro – víbora.
Bisca – mulher perigosa.
Boavaiela – vadiagem; boémia.
Boca do corpo – vagina.
Bôgo – pedra arredondada de grandes dimensões.
Bonico – dejecto humano.
Borco, de – virado ao contrário.
Borracêro – chuvisco demorado.
Borralhêra – cavidade na parede fundeira da lareira onde se guarda a cinza produzida pelo lume.
Borrar a malhada – estragar tudo; desfazer um negócio; gorar expectativas.
Bortueja – irritação na pele; alergia.
Botar uma criença – abortar.
Botelha – garrafa com pequena capacidade; abóbora pequena.
Branzelhena – mulher pouco digna.
Brízeda – vagina.
Bubadanas – bêbado; alcoólico.
Buguélha – bola; melancia com baixo peso.
Buléque – doença; achaque.
Buréca – fresta de iluminação.
Burnir – limpar a casa.
Burrique d`ano – adolescente.
Burra – fortuna.
Burrica salvada – jogo do eixo.
Burro – pau com incisões, através do qual se subia aos sobreiros para lhes tirar a cortiça.
Buxa – lugar por onde se vaza a água de um tanque ou de uma represa.
Buzino – búzio grande que servia para chamar os ranchos ou os rapazes para o baile.
Búzio – embaciado.

C
Cabecinh`àrrã - pessoa com falhas de memória.
Cabra machaneca – pessoa indolente, sem vontade própria.
Cabras – queimadura nas pernas, resultante da exposição destas ao calor da braseira de picão.
Cacanho - muco nasal.
Caçapo – coelho com poucos dias de vida.
Cachão – borbulha da água quando nasce ou jorra.
Cachaporra – cajado com cerca de um metro que possui uma bola no fundo, resultante da raiz da planta.
Caço – concha para tirar a sopa da panela ou da terrina.
Cachopêro – pessoa que gosta de lidar com crianças.
Cadela – banco de madeira feito a partir da pernada tripartida de um sobreiro ou de um carvalho.
Cafanhoto – gafanhoto.
Café – pequeno-almoço.
Cagaçal – barulho excessivo.
Cagaita – sujidade.
Cagar a pêga – meter-se em assuntos alheios; opinar sem ser solicitado.
Cagar postas de Pescada – opinar sem fundamento.
Caídos, aos – à mercê de esmolas.
Calado – queimado pelo sol.
Calatróia – comida mal confeccionada.
Calcadôro – eira circular onde se pisam os cereais.
Calças de cu aberto - calças antigamente usadas pelas crianças nem fundilhos, para que pudessem defecar em qualquer lugar.
Caldêro – balde, geralmente de chapa.
Calhabôco – pedregulho.
Calhandrêra – coscuvilheira.
Calorina – calor intenso.
Calvário – sofrimento prolongado.
Camalhão – pequeno monte de terra resultante da cavadura.
Camastralho – cama.
Cancarôcho – pessoa fisicamente desajeitada.
Canejo - com as pernas tortas.
Canito - cachorro.
Cant`à Maria e balh` Ò Manel – dinheiro.
Canôras – planta que nasce no leito dos ribeiros.
Cantar a malaganha– chorar.
Cantar as aleluias – mostrar-se alegre; cantar vitória.
Cantar de galo – afirmar-se.
Cantarêra – poial onde se colocam os cântaros; móvel em madeira para colocar os cântaros e as asadas.
Cando - cano de espingarda que serve para soprar o lume.
Canxarrêra – pedregal.
Canxo – pedregulho; penedo.
Capazório – razoável.
Capela – coroa de flores que se faz pelo São João.
Caquêro – vaso onde se plantam flores; pessoa envelhecida.
Cara de gato – variedade de figo.
Caraiva – companhia; grupo de amigos.
Caramôço – acumulação de pedras rodeada por um muro rudimentar.
Carapéla – crosta que se forma no lugar de uma ferida.
Carapetos, não se agarrar a – não escolher algo sem importância.
Cardano – adjectivo atribuído aos habitantes de Castelo de Vide.
Careio – jeito.
Carne fresca – carne de chibo ou de borrego.
Carnêrêro – local onde se depositam as ossadas junto de uma igreja ou num cemitério.
Cartachal – pequena propriedade agrícola.
Cartêra – caminho rural largo, de terra batida.
Carvalhadas – boémia.
Casão – garagem; arrecadação no piso térreo duma casa.
Catarral– pneumonia.
Catarrêra – constipação.
Catósa – bebedeira.
Catracego - com falta de visão.
Cavalinho d´ El Rei – galã.
Cavalo d’ El Rei – louva-a-deus.
Cebôlo – planta que origina a cebola.
Cegar e não ver – estar apaixonado.
Cegonha - mecanismo para tirar água dos poços ou dos tanques.
C’múa – grande quantidade de lixo.
Cenémamatrógrafo – confusão com desfecho hilariante.
Chabarco – charco com alguma profundidade.
Chabôco – reservatório de água, escavado no chão, possuidor ou não de revestimento murário.
Chafurdão – construção totalmente em pedra, em geral circular, com tecto de falsa cúpula.
Chambaril – pau curvo onde se pendura o porco depois da matança.
Chambudo – com as pernas grossas.
Champorriom– café com aguardente.
Chaparro – carvalho jovem.
Charavanco – automóvel velho.
Charimbelho – criança.
Charrueco – arado em ferro.
Chazada – repreensão; censura.
Chêrar as rolas assadas – estar muito calor.
Cherume– sumo; seiva.
Chimplintintim – dinheiro.
Cobradêra – entrada da água num rêgo.
Côbro – infecção na pele.
Côca – mulher que usa o lenço da cabeça puxado sobre a cara.
Cochambeta – grupo de pessoas pelas quais não se tem simpatia.
Cocho – tigela, com ou sem pega, feita em cortiça.
Codorno – gelo.
Côida – côdea.
Colandrão, de – à pressa.
Colête – sutiã.
Colhão d’ almude – pessoa indolente.
Compreição – ânimo; paciência.
Comunista – egoísta; ladrão.
Contramina – mina de água.
Conversa de bêbados– conversa sem interesse, repetitiva.
Córnea – recipiente feito em chifre de vaca para guardar o azeite ou as azeitonas.
Corpo bem feito, de – sem agasalhos.
Costado – entrecosto de porco.
Cravenêro – carabineiro (guarda civil espanhol).
Criência – criança.
Cu às bufas, c`o – com medo.
Cudédos do pedr` tarôco – cuidados desnecessários, extemporâneos.
Cudelôbo– nevoeiro intenso.
Culebra – mulher esperta e perigosa.
Cunvite – prenda; oferta para conseguir determinados fins (lícitos ou ilícitos).
Curigo – variedade de figo.


D
Dar à chiola – contar um segredo.
Dar água do cu a buber – seduzir.
Dar ao canélo – prostituir-se.
Dar aos zangonais – prostituir-se.
Dar volta – consertar.
Data – rodada na taberna ou no café.
Deixar a pão e a laranjas – deixar sem resposta.
Deixar-se ir no oriból – ser enganado.
Dentana – gozão.
Dente de coelho– esperteza.
Derrangado – dependurado.
Derrangar-se – dependurar-se.
Derregar – dissolver.
Derriço – namoro; actividade prazerosa.
Dsesaborado – dolorido.
Desalvorido – desorientado; sem rumo.
Desatarentado – desorientado.
Descalçar um pico – dar uma resposta oportuna; afirmar-se no meio duma conversa.
Descontravontade – contra a sua vontade.
Desensamarração – desfolhada do milho.
Deserto – desejoso.
Desfegar – trasfegar o vinho.
Desfêgo – tarefa demorada; confusão.
Desinfrençar – diferenciar.
Desmarrido – desconsolado; que há muito não desfruta dos prazeres da gastronomia.
Desmontar – fugir para parte incerta.
Desnoitédo– diz de pessoa que passou mal a noite, que não conseguiu dormir.
Destemprado – irritadiço; irascível.
Destenível – insuportável.
Dêtér-se c`as galinhas – dormir muito cedo.
Deua te salve – saudação matinal; primeira actividade do dia.
Dexóte– dichote.
Diamasco – damasco (tecido ou fruto).
Diebalma – pessoa desconhecida; alma do diabo.
Doar – aspecto.
Dormir na forma – não cumprir uma tarefa no tempo devido.
Durrijo – em voz alta.

E
Eguariça – mula filha de uma égua e de um burro.
Embalhanado – atordoado; apatetado.
Embarbelhér – enganar.
Embezerrado – com a face vermelha.
Empalagoso – chato.
Empapluçar – inchar.
Emplichar– recuperar de uma doença; reverdecer.
Emplôrédo – inchado.
Emplorér-se – pôr-se num sítio alto.
Emprenhar velhas – realizar uma tarefa vagarosamente.
Encabanado– corcovado.
Encabramado– diz-se da pessoa que anda sobre as pedras ou que se coloca numa grande altura.
Encalacrado – endividado.
Encangalhar – perceber; saber de cor.
Encaramôcedo – colocado numa grande altura.
Encarrelhér– aprender.
Enchoricédo – encolhido com o frio.
Encodornado – enregelado.
Encostar-se a ruim parede – contar com fracos apoios.
Engadanhado – enregelado.
Engadanhar – enregelar.
Engrolado – mal cozinhado.
Engrolar – cozinhar à pressa.
Enlodrar(-se) – sujar(-se) com lama.
Enmachorrado – diz-se do tempo quente e abafado.
Enregar - cavar um rego; iniciar uma tarefa.
Enrolar o `stojo – morrer.
Entrar com – enganar; pregar uma partida.
Entrás – cancro.
Entrementes – entretanto.
Entremoçada – diz-se da batata que, depois de cozida, se estraga.
Entretenga – entretenimento.
Entropeçar – tropeçar.
Envenanar – irritar.
ENXURRO – entulho resultante duma enxurrada.
ENZUMINÉR – enganar; ludibriar.
ERVACÊDO – terreno coberto de erva densa.
ERVAÇUM – erva densa.

F
Fadinho serrano – conversa chata, infindável.
Falca – pequenos pedaços de cortiça resultantes da descasca da lenha de sobro.
Fandangaria – pessoas sem qualidade moral.
Fandango – prostituta; pessoa ruim.
Fandunga – avarento.
Faneco – pão.
Farçola – adjectivo atribuído aos habitantes da freguesia da Ribeira de Nisa (Portalegre).
Farinheira, fazer – ter problemas de erecção durante a relação sexual.
Farresco – companhia; divertimento.
Fatêxa– dente grande.
Fatinho novo, Fazer um – criticar uma pessoa sem ela estar presente.
Fazer cabeça – pactuar.
Fazer-se à orça – roubar; sonegar.
Fega – colha da azeitona.
Feguêra dôba – lugar distante e desconhecido.
Feio c`mo Julião – extremamente feio.
Ferra – pá em chapa de ferro para apanhar o lixo ou a cinza na lareira.
Ferrar a unha na cabeça – vender muito caro.
Ferrar o cão – contrair uma dívida sem intenção de a pagar.
Fescata – festa; convívio; sátira.
Fêto – feto.
Fézes – preocupações.
Fiar-se na virgem e não correr – esperar que outros realizem o que lhe cabe a si.
Ficar em ´sclamença – servir de lição para o futuro.
Figo chumbo – figo da índia.
Fino c`mà lã cágado – esperto.
Flama – chama.
Focinho de bácro guloso – pessoa esquisita na sua alimentação.
Focinho de porco – expressão facial zangada.
Folinhas – pessoa frágil.
Fona – sovina.
Fona, numa – a trabalhar arduamente.
Fonica– remendo de pequena dimensão.
Fora figo! – interjeição usada para manifestar rejeição de algo.
Fraterna – sofrimento.
Fróita – pessoas desprezíveis.
Fronha – mentira; face, rosto.
Funda – azeite produzido por uma certa quantidade de azeitona.
Fusca – matéria vegetal que se destina a ser queimada.

G
Galada – melancia em que se fez um galo.
Galado – ovo fecundado.
Galar – fazer um galo; fecundar.
Galhapanas – rapaz de pouca idade.
Galinha que caça ratos – alguém com boa posição social e que constitui apoio seguro.
Galo – corte que se faz nas melancias para ver se estão maduras ou saborosas; parte central da melancia.
Gal’ capão – adolescente.
Gancho, de – com personalidade difícil.
Ganhar o quêjo d`ôro  – ter um casamento sem conflitos.
Ganhar sapatos novos – contar uma novidade.
Garra – cabelo.
Garrafada – preparado com vinho, ovos e açúcar para dar fortaleza ao corpo.
Garrão – grande.
Garrinho – pequenino.
Garripas – cabelos compridos.
Garrota – bengala.
Garrudo – cabeludo.
Gatêra – buraco no fundo da porta para dar passagem aos gatos.
Gato – remendo.
Gávia – sesta.
Gear na cabeça– adquirir experiência na vida.
Godilhão– galo na cabeça.
Gravanada– chuva repentina e abundante.
Gravanço– grão-de-bico.
Grude– fuligem da chaminé.
Guarda-fumêro– chouriço feito no intestino grosso do porco.
Guardanholas– guarda-chuva.
 
I
Imbeguéda – barriga saliente.
Imbeguêra– cordão umbilical.
Impestor – vaidoso.
Incontabilidade – incompatibilidade.
Inda bem não – entretanto; quando menos se espera.
Indromenér – enganar.
Inganido – encolhido.
Ingarelas – estrutura de madeira que, colocada sobre o dorso de um burro ou de um macho, permite o transporte de vasilhas.
IngivaI – gengiva.
Ir à forja  – rejuvenescer.
Ir à murélha – defecar ao ar livre.
Ir a Troncos de – ir à procura; ir atrás de alguém.
Ir ao grepe – roubar.
Ir aos arames – zangar-se.
Ir parar à rabeca – ser denunciado publicamente.
Iscado – enganado; borrado.
Iscar – enganar; provocar uma má experiência.

J
Jaquina melhêna – pessoa que gosta muito de beber chá.
Javardo – porco que ainda não foi capado.
Joãvaz – variedade de feijão; testemunha de Jeová.
Jogar à bugalhinha – manipular alguém.
Jóspires – dióspiro.
Judêrão – pessoa que não respeita a religião católica; blasfemo; ateu.

L
Lacão – chispe de porco.
Lafaruso – pessoa mal vestida, sem cuidados mínimos de higiene.
Lagartêro – adjectivo atribuído aos habitantes da freguesia de Alegrete (Portalegre).
Lambarão – conversa.
Lambariér – conversar.
Lambérço – abusador, pessoa que abusa da confiança que lhe dão.
Lançar fora – vomitar.
Langanhoso – remeloso; pegajoso.
Lã que vai prà bêra – tarefa facilitada.
Largueza – quintal com uma extensão apreciável.
Lascarino – bem humorado.
Lavados – roupa suja.
Lavadura – comida com que alimentam os porcos, feita com restos de refeições humanas ou com couves cruas misturadas com farelos e água; comida mal confeccionada.
Lavarinto – confusão.
Lavar o cu c`a águas das malvas – auxiliar.
Lavutador – sociável.
Lavutér – relacionar-se socialmente.
Lebre – pessoa libertina; mulher astuciosa.
Lêtebó – rapaz; homem sem eira nem beira.
Lingua de cabra – pessoa que não é capaz de guardar um segredo.
Lua cabrêra – loucura; desorientação.

M
Maçancuca – um dos frutos do carvalho, com a força de uma pequena bola esponjosa.
Machorra – fêmea (humana ou animal) que não produz crias.
Madrinhas – vacas que conduzem um touro ao curro no final da tourada; cabrestos.
Malacueco – rebuçado.
Malandamoso – diz-se do caminho onde é difícil transitar mesmo a pé.
Malanquêras – doenças; defeitos de personalidade.
Malaquetão – espécie de pêssego; alperce.
Malasado – desajeitado.
Mal atrogalhado – mal vestido.
Mal de canga, pior d` arado – de mal a pior.
Malino – maligno; velhaco.
Manamafarda, fazer a – roubar.
Mandados – recados.
Mandar à fava – insultar.
Mandar à fonte limpa – insultar; mandar à merda.
Mandar cantar a plaima – acabar com uma conversa inoportuna e irritante.
Manhoca – pega do guarda-chuva.
Mantêga no focinho dos cães – coisa de pouca duração.
Má raça, de – diz-se da criança viva, ladina.
Mareia – orvalho matinal.
Marifrancisca – vagina.
Marmita – cara, face.
Marôvél – vagabundo; pessoa suspeita.
Marrada – pequeno bosque cerrado de carvalhos jovens.
Marralhêro – febril.
Marrana – corcova.
Marroquino – campónio.
Mártér Santo – São Sebastião.
Martíros – canto quaresmal que retrata Cristo sofredor.
Martunto – pessoa bruta, sem instrução nem bom senso.
Massêrão – tronco escavado onde comem os porcos na pocilga.
MastrançonaMASTRANÇONA – mulher de má nota; boneca feia.
Matorral – matagal.
Medalha – nódoa na roupa.
Medir p`la mesm` àrresôra – avaliar do mesmo modo, pela mesma bitola.
Meia latina – um quarto de litro.
Meiarráte – duzentos e cinquenta gramas.
Meipau  – prémio de consolação; mal menor.
Mejér à parede – emancipar-se.
Mejêta – corrente de água escassa.
Melagrento – pessoa que se espanta em excesso.
Melégres – manifestações de espanto, geralmente ruidosas ou excessivas.
Mercantista, à – à pressa; sem cuidado.
Meter a penada – intrometer-se.
Meter as cabras no currél – vencer uma discussão.
Meter dente – compreender.
Mexurfada – comida mal confeccionada.
Mijamansinho – pessoa falsamente ingénua.
Mina – tesouro escondido.
Mingengra – mulher desprezível.
Mitrigaita, de – com personalidade difícil.
Mobília do ti´ Zé Brasuna – mobília pobre.
Mocho – diz-se do cabrito sem chifres.
Mofêdo – matagal cerrado.
Monelho – rolho de cabelo que se origina depois de uma mulher se pentear.
Monquefungo – indivíduo feio, antipático e/ou ensimesmado.
Morder as orelhas – namorar.
Motrêco – pedaço de pão seco.
Moxinga – porcaria; grande sujidade acumulada num espaço determinado.
Morrinha – mortandade.
Mortaço – mortandade.
Mosca varejêra – pessoa que escuta ou vigia o que os outros dizem ou fazem, com o propósito de contar as suas opiniões ou acções.
Môrinho – criança que não recebeu o baptismo.
Muguengo – abóbora com cor alaranjada.
Murréça – vinho.
Musga – chamuscar os porcos.


N
Não armar nada – mostrar-se impotente na relação sexual.
Não crer que há bruxas – não acreditar no que está provado.
Não mijar no seu penico – não merecer confiança.
Não ter barriga pra caldos – não ser capaz de guardar segredos.
Não ter um tostão furado ao Sol – estar falido, sem dinheiro.
Não ter um tostão partido plo meio – estar falido, sem dinheiro.
Nascença – cancro.
Nuvedéde – colheita; rendimento da produção agrícola.
Nuvracêro – nevoeiro.
Nuvrina – neblina.

O
Óca - ocre amarelo ou vermelho.
Ôlhamento - capacidade de respeitar as conveniências ou de retribuição na justa medida um favor.
Olho de figo curigo, ter – manifestar esperteza.
Onde o diébe pariu a mãe – muito longe.
Ôsiér – guardar o gado.
Ôvir tocar o sino grande – ser repreendido.


P
Pachelgas – pessoa lenta.
Padre e sacristão, ser – falar muito; responder às suas próprias perguntas.
Padre-nossos castelhanos – resmungos.
Paguilha – pagamento.
Palavras ditas e retornadas – conversa muito repetitiva.
Palhaça – queda; tombo.
Panelinha – combinação secreta; pacto; conluio.
Pangaiada – patuscada; convívio entre homens.
Pantalonas – calças largas.
Pantasma – fantasma.
Papagaio real – pessoa que repete tudo o que lhe dizem.
Paparratos – massa das farinheiras frita em croquetes.
Papôla – vagina.
Parcêras – placenta.
Paral da ´sterquêra – pessoa interesseira e ambiciosa.
Par de jarras – casal; par de amigos.
Pardilha, com a– alquebrado; preguiçoso.
Parir a galega – haver grande número de pessoas num local.
Parôvão – ingénuo.
Partir a cantarêra – surpreender.
Partir a soco – cortar um alimento sem o auxílio duma faca ou duma navalha.
Passar a patacos – vender.
Passáro da rebêra – pessoa viva e interesseira.
Passar plas brasas – adormecer.
Pastilha de cibazol - copo de vinho ou de outra bebida alcoólica.
Pata chanca – pessoa coxa.
Pata de chambaril, à – rispidamente.
Patagalharda – jogo infantil.
Pataganhas – pés ou mãos com tamanho anormal.
Patamêro – pântano; terreno alagado.
Patarou – pessoa esclerosada, devido à idade avançada.
Pau de virar tripas – pessoa alta e magra.
Paz d` Alma – pessoa bondosa.
Pêdédo – adoentado.
Pé de vento – zanga passageira.
Pedro-Maria – homem bisbilhoteiro.
Pêdo mestre – morte.
Pedrisco – granizo.
Peganhar – gozar; arreliar.
Peganhoso – implicativo; gozão.
Pelado – careca; adjectivo atribuído aos habitantes de Marvão.
Pelharanca – pele humana flácida.
Pelhêgo – corpo humano; tronco.
Pelhêra – armário escavado na parede, geralmente coberto por uma cortina.
Pelice – samarra; casaco com gola de pele de raposa.
Penegar – sofrer.
Penico do céu – designação jocosa da aldeia de Carreiras.
Peniquéda – dejectos depositados num penico e laçados à rua.
Perna de alveca – pessoa coxa.
Perrice – birra infantil.
Pesculhoso – exigente; esquisito.
Peseta – pessoa ruim.
Pêxe do rio – qualquer peixe pescado em meio fluvial para fins alimentares.
Pexelim – peixe seco semelhante ao bacalhau, mas com poucas espinhas.
Pêxinho – homossexual.
Piel – poial.
Pífaro – pénis.
Pincolha – parte cimeira de uma árvore.
Pintessilgo – pedinte.
Pipi da tabela – habitante da cidade.
Placho – nu.
Planchão – barriga.
Póda – planta que origina os cravos.
Pôia – pão dado como maquia ao dono do forno onde se cozeu a amassadura.
Político – de relações cortadas.
Ponta da unha, à – com agilidade; com facilidade.
Ponto-marca – ponto-de-cruz.
Pôpo – trança de cabelo enrolada na nuca ou no alto da cabeça.
Pôr a trapêlo – usar no dia a dia.
Pôr em má campo – embaraçar; difamar.
Portado – entrada duma propriedade rural; parede de pedra solta que ruiu.
Pôr uma espinguérda à cara – falar ininterruptamente.
Povo – centro da povoação; aldeia.
Préido – propriedade agrícola.
Presa – represa de pequena dimensão.
Presalôra – borboleta.
Presente – dejecto humano.
Procurér – perguntar.
Puxar despique – pedir razões.

Q
Quarta – vasilha em chapa de zinco para o transporte de água ou leite.
Quartel – lugar de dormida durante a execução das tarefas agrícolas.
Quêjo d`ôro – salvação eterna.
Quescóida – sujidade acumulada, difícil de limpar.
Quinto – pessoa da mesma idade.

R
Rabacêro – que gosta muito de qualquer espécie de fruta.
Rabenelga – resmungona; rebelde.
Rabita – viva, com vitalidade.
Rabo alçado, de – zangado.
Raivosa – nuvem pouco carregada.
Rambóia – boémia.
Ramona – carrinha velha.
Raspa-cassolas – insecto.
Ratatau – prato constituído por carne guisada com batatas; bodo dos pobres.
Rebentar c`o cu c`mà ceguérra – falir.
Recangão, de – arrastado.
Remanecer – infiltrar (um líquido).
Remungér – resmungar.
Repolho de pé curto – pessoa baixa e atarracada.
Restolhéda – mistura; conjunto.
Retôça – brincadeira.
Rézio – resoluto, apesar da idade avançada.
Riguidongo – vaidoso; presunçoso.
Roer a corda – submeter-se involuntariamente a uma opinião.
Rogar – oferecer; propor um negócio.


S
Sabão da bruxa – resina proveniente de algumas árvores de fruto (abrunheiros ou pessegueiros, por exemplo).
Sabonete – reprimenda; censura.
Sabugo – ânus.
Sacana – adjectivo atribuído aos habitantes da freguesia dos Fortios (Portalegre).
Sair o pombo mocho – ver goradas as expectativas.
Salapismo– problema.
Saltadôro – passagem entre dois terreno, onde tem de se saltar uma parede.
Salto rato - diz-se do tecto que tem grandes aberturas entre as tábuas do forro.
Sapateira - diz-se da azeitona temperada depois de estragada.
Saquia – corrente de água poluída; lixeira.
Sarrazenér – chatear.
Secumbido – chateado; macambúzio.
Selo – sujidade entranhada na roupa, especialmente nos colarinhos, nos punhos e nos cotovelos.
Senéis – toque do sino a finados.
Serão p`ra trabalhadores – conversa chata, ininterrupta.
Serrão– papo dum galináceo.
Snhum – senhor ou senhora.
Sobrecama – espécie de sótão, construído em madeira e situado sobre os quartos.
Soldador – curadeiro ou bruxo.
Sopa de landum – sova; pancada.
Somanta – sova; espancamento.
Sorte – parcela de uma herdade ou quinta.
Sortes – inspecção militar.

T
Tabuão – nódoa negra.
Talêgo – saco de serapilheira com pouca capacidade.
Talerfe – marco geodésico; pinoco.
Tanganho – varapau.
Tapada – terreno vedado por muros de pedra seca, onde existem sobreiros ou carvalhos.
Tapada, entrar prá – casar.
Tapona – bofetada.
Tarasca – coscuvilheiro ou coscuvilheira.
Tareco – bisbilhoteiro; homem sem palavra.
Tarro – vasilha térmica com asa feita em cortiça.
Táte! – atenção!
Tãvá – fórmula de despedida; adeus.
Terrincar – roer os dentes uns nos outros.
Tio no Brasil – pessoa influente e rica.
Tiorga – bebedeira.
Tocar uma gaita – ver goradas as suas expectativas.
Tomba – remendo no sapato.
Tondo – pano de serapilheira colocado debaixo das oliveiras durante a colha da azeitona.
Tornozelos – bola de muco nasal ou de sangue seco.
Torto da crença – pessoa bastante teimosa.
Tosa - sova.
Tosse de cão – tosse seca.
Trabuzena – doença súbita; desmaio.
Trangalhadanças – pessoa desajeitada.
Trempecalhada – quinquilharia.
Tretas no capacete – mau génio; manias.
Trízia – icterícia; hepatite.
Troça – grossa fatia de pão.
Troça da ti`Mari`do Montinho  – fatia de pão excessivamente grande.
Trogalho – pessoa mal vestida.
Tromba-lobos  – pessoa antipática.
Trongo – ruim; com feitio difícil.
Trongo c`mòs bailes da vila – extremamente ruim.
Tropêço – pequeno banco feito com pranchas de cortiça.
Txtó! – nunca!


U
Ulevél – olival.
Ulevêra – oliveira.
Umbeguêda  – abdómen saliente.
Unhagata – vagem do feijão em crescimento.
Urvelhena – amendoim.

V
Vagaturra – tempo disponível.
Vassôra varredôra – mortandade.
Vedonho da latada – actividade costumeira pouco apreciada. 
Veneta – birra.
Venhà-nós – lucro.
Ventas de Penico – pessoa carrancuda.
Verso – texto narrativo versificado.
Verter águas – urinar.
Vestido em pé- vestido feminino completo numa só peça.
Viscas – fisgas.
Vivediébro – pessoa ruim.

X
Xixa – carne.

Z
Zangarrada – barulho.
Zangarrêra – barulho.
Ziébre – oxidação do cobre ou do bronze.
Zipar – roubar.
Zipla– erisipela.
Zoêra – barulho nos ouvidos.

Fonte: Ruy Ventura, http://nortealentejano.blogspot.pt/search/label/Vocabul%C3%A1rio%20da%20freguesia%20de%20Carreiras%20%28Portalegre%29
 
 
 
 
 

  

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Bom Dia Alentejo, A Pedra da Alçada, Santiago Maior chega ao céu, Aldeia de Pias, a pedra é do galo

 
“Pouco se sabe sobre a Pedra Alçada, ainda há quem julgue que possa ser um menir erigido no Neolítico, mas tudo aponta para que seja um afloramento natural, (in - Carta Arqueológica de Alandroal), constituído por duas rochas graníticas, sobrepostas uma na outra e que na sua base atinge os 6m. de diâmetro e com 10m. de altura.
A ser natural, como tudo indica, será portanto pré-histórico, o que ajuda a validar a minha afirmação de ser o mais antigo monumento do Concelho de Alandroal. No entanto, mesmo sendo uma formação rochosa natural, pelo seu tamanho, forma e por ser único na paisagem, pode ter sido visto na Pré-História ou em épocas mais recentes como um lugar especial.
 
Sabe-se que na zona, existem outras formações rochosas, tais como a Pedra do Cavalo, da Pedra da Mulher, ou Pedra dos Namorados, esta ultima já no concelho de Reguengos e onde as moças casadouras iam atirar um calhau.
Também a Pedra Alçada, estará ligada a alguns contos lendários, dessas lendas também pouco se sabe, falta, também aqui alguma pesquisa etnográfica. Sei que a Pedra Alçada está muito ligada aos contos sobre fertilidade, muito por culpa da sua forma fálica...
Assim compadres e minhas comadres, nas terras de Alandroal, freguesia de Santiago Maior, lugar da Aldeias de Pias, a Pedra da Alçada ou a Pedra do Galo.
 

 
 

domingo, 12 de abril de 2015

Bom Dia Alentejo, Ponte de Sor, a Lenda da Nogueira, a moira não apareceu


Quando a Ponte de Sor era ainda uma cidade de Matusaro, nela havia um alcaide muito mau que tinha grande aversão aos portugueses. Ao contrário – pois a vos direi a vós mes compadres e minhas comadres – a alcaidessazinha sua filha, que era de uma beleza estonteante, vivia apaixonada por um fidalgo português que, por seu turno, lhe correspondia com um amor puro e a mais cega das paixões e queria fazer dela sua esposa.
O pai – assim vos direi a vossemecês – nem por sombras admitia que a filha se enamorasse do português, inimigo fidagal dos da sua raça, pois destinara já a filha para esposa de um seu amigo com quem, tinha secretamente ajustado o casamento.
O fidalgo português vinha de longes terras, pela calada da noite, arrostando com mil perigos, para falar à sua amada. Debruçada das ameias da barbaçã da fortaleza, a fidalga moira esperava-o, impacientemente. Uma vez chegado, ela abria a porta do castelo e os namorados sentavam-se num banco de pedra que ali havia, debaixo de uma nogueirinha, ouvindo o sussurrar plangente das águas da fonte que corria perto, trocando mil beijos e juras de fidelidade.
Assim se passaram muitos meses. Mas uma noite, o velho alcaide surpreendeu os dois amantes e cheio de cólera puxara da longa cimitarra para matar a filha, que lhe traíra a ideia de a casar com um dos da sua raça.
O português levantara-se de um salto e brandindo a sua espada gloriosa de tantos combates, parar vários golpes que o alcaide astuto desferira, acabando por desarmar aquele velho filho de Allah.

Ferido no seu orgulho, o alcaide jurou vingar-se e, um dia, obrigou a filha a tomar o filtro do esquecimento, para que deixasse de pensar no namorado. Mas a fada que o fizera dera-lhe um filtro de amor, que mais veio avivar o amor ardente da alcaidessazinha. Furioso o velho moiro mandou encantar a filha, lançando-lhe o anátema da maldição, para que ficasse encantada por muitos anos. Só numa longínqua noite de S. João, ao dar da meia-noite, se quebraria o encanto.
É por isso – a mes compadres e minhas comadres, a mes compadres – que nos tempos da minha mocidade, os rapazes e as raparigas vinham dos bailes das fogueiras de S. João, à meia-noite, beber água à fonte da Vila, que estava toda caiada e enfeitada de canas verdes, bandeiras e flores, esperançados de assistirem ao desencantamento da linda moira, que estaria penteando os longos cabelos negros, com o seu belo pente de oiro, à espera do eterno enamorado, para se casarem.
Rolaram muitos séculos, e um dia, quando o Dr. João Crawford Rodrigues era proprietário da quinta que no local mandou fazer, ordenou que cortassem a nogueira. Quando os seus criados iam cumprir tal ordem, ouviram uma voz saída de um poço, que existia no local, prevenindo que não cortassem a árvore, porque, fazendo-o, morreria o dono da quinta. Os criados, atemorizados, foram informar o patrão que surpreendeu a ordem.
Passaram-se mais uns anos e um dia os criados voltaram para cortar a nogueirinha. A mesma voz feminina voltou a ouvir-se, dando novo aviso. Não acreditando nele, o Dr. Rodrigues mandou abater a árvore. Faleceu nessa mesma noite.
Talvez inspirado por esta lenda, o Dr. Manuel Rodrigues de Matos e Silva, posterior proprietário da mesma quinta, mandou plantar no mesmo local outra nogueirinha, que todos nós conhecemos, e que há pouco ainda foi cortada.
Era para ela que todos olhávamos, quando, nas noites de S. João, vínhamos à fonte, na esperança de vermos a linda moira que deu origem a esta bela lenda.
Fonte: Primo Pedro da Conceição Freire Andrade, Cinzas do Passado, Edição da Câmara Municipal de Ponte de Sor, 1986