As
mulheres realizavam também alguns trabalhos específicos, como as mondas
(apanhar as ervas daninhas no meio das searas), a apanha da bolota e as
caianças das casas.
Nos
períodos de maior trabalho, como as ceifas em Junho e Julho, a apanha da
azeitona em Novembro e Dezembro ou a limpeza das árvores para lenha em Janeiro,
era frequente a contratação de ranchos de trabalhadores do norte, pois a mão-de-obra
existente não era existente.
Picão
dedica um capítulo inteiro, com a habitual descrição pitoresca, aos ratinhos, os “milhares de homens e rapazes
que de propósito, vêm das Beiras (…) ceifar às terras alentejanas (…) como
vantajoso que é para lavradores e serviçais. Ai das colheitas do Alentejo, se
lhes faltassem os ceifeiros beirões…”
Picão –
mas Picão continua – “Os ratinhos também eram contratados pelos seareiros e
pelos rendeiros, não só pelos grandes proprietários…”.
O
aumento demográfico que se verificou no início deste século (em Avis, a
população aumentou 76,1% entre 1890 e 1940), não foi acompanhado pelo aumento
do trabalho das lavouras: pelo contrário, a introdução de alguma modernização
das alfaias agrícolas, como foi o caso duma debulhadora comprada nos anos 20
por Asdrúbal Braga, um lavrador de Avis, provocou a diminuição de mão-de-obra.
Esta
máquina, no entanto, foi a única no concelho e era alugada aos restantes
lavradores; só nos anos 60 se assistiu à introdução das ceifeiras-debulhadoras.
Apesar destas alterações, os lavradores continuavam a contratar a mão-de-obra
exterior, mais barata que a local. Assim, começa a assistir-se a crises de
desemprego sazonais, um fenómeno que preocupou as autoridades do Estado Novo.
Cutileiro. Cutileiro, op. Cit., p. 89 “As necessidades de
mão-de-obra decorrentes da exploração agrícola extensiva vieram aumentar a
desigualdade resultante da distribuição da terra, dando origem a prolongados
lapsos de tempo durante o ano agrícola durante os quais os trabalhadores rurais
não eram necessários nas herdades. A partilha dos baldios em 1874 e o
substancial aumento da população a partir dos fins do séc. XIX transformaram
estas fases de desemprego periódico num grave problema social. A estes períodos
deu-se o nome de crises de trabalho”.
No que diz respeito a Avis e ao distrito
em que este concelho se integra, esta preocupação manifestou-se nos pedidos
repetidos por obras públicas em períodos de crise. A grande preocupação das
autoridades do Estado Novo com estas crises de desemprego sazonais, que
ocorriam sobretudo no fim de verão, era a agitação social que a falta de
trabalho podia provocar.
A solução de realizar obras públicas
pelos vistos não tinha tanto a ver com o desejo de modernizar a religião,
criando infra-estruturas. Isto vinha como acréscimo, mas o motivo principal era
empregar os trabalhadores para evitar os “verdadeiros cadinhos de ódio de
classes e luta social”, pois, como disse o Governador Civil de Évora, “a fome
(era o) principal agente subversivo da classe rural”.
Quanto ao papel dos lavradores nesta
questão, nota-se por parte do Governador Civil uma certa responsabilização por
esta situação, uma vez que a contratação dos ranchos de trabalhadores fora do
distrito agravava as crises de desemprego.
Uma das respostas do Estado Novo a este
problema no sector agrícola foi estabelecer o novo Estatuto do Trabalho
Nacional, instituído em 1933, o qual determina que as caixas ou instituições de
previdência sejam organizadas por iniciativa dos organismos corporativos. As
instituições criadas para esse fim foram as Casas do Povo, com a acção a nível das
freguesias e auxiliadas na sua acção social pelos Grémios da Lavoura de cada
concelho.
Fonte: Maria Antónia F. Pires de
Almeida, Família e Poder no Alentejo, Elites de Avis – 1886 – 1941, 1997
Foto: http://www.prof2000.pt/users/avcultur/luisjordao/almanaque/Numero09/Imagens/MonteAlentejano01.jpg