segunda-feira, 5 de maio de 2014

Bom Dia Alentejo, Os Ratinhos, a Beira no Alentejo, o Desemprego e a Casa do Povo

 
  O trabalho era sobretudo sazonal, mas uma lavoura ocupava grande número de trabalhadores fixos, desde ao feitor ao abegão e sobretudo os mais variados ganadeiros, pois o gado, era uma parte importante da actividade e tinha de ser tratado durante todo o ano.
As mulheres realizavam também alguns trabalhos específicos, como as mondas (apanhar as ervas daninhas no meio das searas), a apanha da bolota e as caianças das casas.
Nos períodos de maior trabalho, como as ceifas em Junho e Julho, a apanha da azeitona em Novembro e Dezembro ou a limpeza das árvores para lenha em Janeiro, era frequente a contratação de ranchos de trabalhadores do norte, pois a mão-de-obra existente não era existente.
Picão dedica um capítulo inteiro, com a habitual descrição pitoresca, aos ratinhos, os “milhares de homens e rapazes que de propósito, vêm das Beiras (…) ceifar às terras alentejanas (…) como vantajoso que é para lavradores e serviçais. Ai das colheitas do Alentejo, se lhes faltassem os ceifeiros beirões…”
Picão – mas Picão continua – “Os ratinhos também eram contratados pelos seareiros e pelos rendeiros, não só pelos grandes proprietários…”.
O aumento demográfico que se verificou no início deste século (em Avis, a população aumentou 76,1% entre 1890 e 1940), não foi acompanhado pelo aumento do trabalho das lavouras: pelo contrário, a introdução de alguma modernização das alfaias agrícolas, como foi o caso duma debulhadora comprada nos anos 20 por Asdrúbal Braga, um lavrador de Avis, provocou a diminuição de mão-de-obra.
Esta máquina, no entanto, foi a única no concelho e era alugada aos restantes lavradores; só nos anos 60 se assistiu à introdução das ceifeiras-debulhadoras. Apesar destas alterações, os lavradores continuavam a contratar a mão-de-obra exterior, mais barata que a local. Assim, começa a assistir-se a crises de desemprego sazonais, um fenómeno que preocupou as autoridades do Estado Novo.
 
 

Cutileiro. Cutileiro, op. Cit., p. 89 “As necessidades de mão-de-obra decorrentes da exploração agrícola extensiva vieram aumentar a desigualdade resultante da distribuição da terra, dando origem a prolongados lapsos de tempo durante o ano agrícola durante os quais os trabalhadores rurais não eram necessários nas herdades. A partilha dos baldios em 1874 e o substancial aumento da população a partir dos fins do séc. XIX transformaram estas fases de desemprego periódico num grave problema social. A estes períodos deu-se o nome de crises de trabalho”.
No que diz respeito a Avis e ao distrito em que este concelho se integra, esta preocupação manifestou-se nos pedidos repetidos por obras públicas em períodos de crise. A grande preocupação das autoridades do Estado Novo com estas crises de desemprego sazonais, que ocorriam sobretudo no fim de verão, era a agitação social que a falta de trabalho podia provocar.
A solução de realizar obras públicas pelos vistos não tinha tanto a ver com o desejo de modernizar a religião, criando infra-estruturas. Isto vinha como acréscimo, mas o motivo principal era empregar os trabalhadores para evitar os “verdadeiros cadinhos de ódio de classes e luta social”, pois, como disse o Governador Civil de Évora, “a fome (era o) principal agente subversivo da classe rural”.
Quanto ao papel dos lavradores nesta questão, nota-se por parte do Governador Civil uma certa responsabilização por esta situação, uma vez que a contratação dos ranchos de trabalhadores fora do distrito agravava as crises de desemprego.
Uma das respostas do Estado Novo a este problema no sector agrícola foi estabelecer o novo Estatuto do Trabalho Nacional, instituído em 1933, o qual determina que as caixas ou instituições de previdência sejam organizadas por iniciativa dos organismos corporativos. As instituições criadas para esse fim foram as Casas do Povo, com a acção a nível das freguesias e auxiliadas na sua acção social pelos Grémios da Lavoura de cada concelho.

Fonte: Maria Antónia F. Pires de Almeida, Família e Poder no Alentejo, Elites de Avis – 1886 – 1941, 1997
Foto: http://www.prof2000.pt/users/avcultur/luisjordao/almanaque/Numero09/Imagens/MonteAlentejano01.jpg

Bom Dia Alentejo!