sábado, 27 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, Tolosa, a Casinha das Bruxas, a mistério Alentejo

Junto ao caminho velho que antigamente fazia a ligação entre Tolosa e Nisa, havia uma gruta, conhecida entre a população por "Casinha das bruxas".
Segundo a tradição, era ali que esses entes estranhos, tão enraizados na crendice popular, preparavam as suas incursões nocturnas.
Já noite adiantada, apareciam a cantar e dançar nas encruzilhadas dos caminhos, revelando uma histeria demoníaca.
Todo o povo andava aterrorizado.
As crianças andavam amedrontadas e o seu sono era povoado de sonhos terríficos.
Para pôr termo a esta situação, juntaram-se quatro rapazes valentes e resolutos, que não acreditavam em bruxas.
 

Pela calada da noite, sem que elas sentissem a sua chegada, surgiram inesperadamente entre as participantes na dança demoníaca. Ainda quiseram fugir, mas as mãos fortes e calorosas dos mancebos seguraram-nas como tenazes. Ali mesmo foram desmascaradas.
Foram depois conduzidas à "Casinha das Bruxas", onde permaneceram o resto da noite, sob forte vigilância.
No dia seguinte, em pleno dia, foram expostas na praça pública, sujeitas aos olhares e apupos da população indignada.
Envergonhadas e humilhadas por todos, essas mulheres depressa  abandonaram a povoação para sempre. Certamente aproveitaram a lição, para nunca mais brincarem às bruxas.
A calma voltou ao povoado. Já ninguém acreditava em bruxas.
Ao sono das crianças a tranquilidade regressou.
Fonte: Pequena Monografia de Tolosa, Alzira Maria Filipe Leitão
 
 
 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, Avis, o Marco Geodésico Homem de Pedra

 
O marco geodésico "Homem de Pedra", mes compadres e minhas comadres, é um dos pontos mais elevados do concelho de Avis...

Bom Dia Alentejo, Vila Viçosa, Topónimo de Vila Viçosa, a uma formosa

Reclina-se Vila Viçosa do Alentejo em uma planície ao sopé das vertentes orientais da pequena serra de Borba, onde uns cômoros lhe formam dois pequenos vales, pelos quais serpeiam, na estação das chuvas, outros tantos ribeirinhos, correndo para o levante do sol para se unirem lá e se confundirem mais adiante na ribeira de Borba.
Foi ao vale do sul que os portugueses chamaram VAL VIÇOSO, no tempo das conquistas aos mouros no Alentejo; e daí veio à moderna povoação o nome de VILA VIÇOSA, quando recebeu o foral do concelho português.
(…)
VILA VIÇOSA é chamada também Calípole e os moradores dizem-se calipolenses. Este nome foi-lhe atribuído por André de Resende nas Antiguidades da Lusitânia, escritas em latim, por não saber o seu autor como verter melhor para a língua dos romanos o termo VILA VIÇOSA, do que adoptando aquele nome, já dado no idioma grego a não menos de três povoações antigas.
Vertido à letra, Calípole quer dizer: cidade, povoação formosa.
(Do Compêndio de Notícias de Vila Viçosa – concelho da Província do Alentejo e Reino de Portugal – pelo padre Joaquim José da Rocha Espanca – Prior de S. Bartolomeu da mesma vila – 1892 – Págs. 10-11-13).
E logo, compadres e minhas comadres, e logo, (Dos Topónimos e Gentílicos, de Xavier Fernandes, Vol. II – 1944 – Pág. 399), o compadre a dizer “Vila Viçosa parece querer exprimir a ideia de “terra de frescura, de mimo, de vigor de vegetação, de exuberância de vida”, e tudo isto tem a histórica e linda vila alentejana…

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, Coreto, a Banda a tocar

 
Era um tempo curioso, lento, sem pressas, sem correias.
A música e o prazer de passear eram um forte sentimento das populações de então.
As bandas filarmónicas emergiam como actividade lúdica de quantos pretendiam ocupar o seu lazer aprendendo a tocar música.
Era assim o quotidiano.
Nas aldeias e vilas onde nasciam as bandas, especialmente aí, surgiu a necessidade de construir um coreto para que a banda tocasse sem ter que se preocupar com as intempéries, dando-lhe, por outro lado, um estatuto especial de festa.
Os coretos passaram a ser locais privilegiados de animação e distracção das populações, que na tarde de Domingo, circulando no passeio público, se dedicavam ao som da Filarmónica.
As bandas Filarmónicas representam uma das iniciativas culturais mais importantes para as populações, que ao longo do ano souberam dignificar esta forma de expressão cultural.
Fonte: Coretos no Norte Alentejano, Maria de Lurdes Ferreira Serra

terça-feira, 16 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, Monte do Chamiço, a que uma aldeia do Monte da Pedra, a uma aldeia no Crato

Esta terra fica na provinçia do Alentejo pertençe ao Priorado do Cratto a comarca da ouvedoria pertençe a comarca do Cratto, e da provedoria a comarca de Portalegre.
Esta freguezia tem vinte, e sinco vezinhos, e pessoas oitenta, e huma.
Esta terra he do Gram Prior do Gram Priorado do Cratto, e de prezente he seu Gram Prior o Senhor Dom Pedro Infante de Portugal.
Esta terra esta situada em hum oiteiro para a parte do sul descobrese della pela o [sic] nasente a cidade de Portalegre que dista tres legoas e meia, e para o poente descobreçe o Monte da Pedra que dista meia legoa.
 
 
Esta freguezia não tem termo seu pois esta no termo da villa do Cratto porem tem lemite seu diversso das mais freguezias não compreende aldeia alguma.
A parochia desta freguezia esta fora do povo proxima as cazas, e não tem lugar ou aldeia alguma como esta dito.
O orago desta freguezia he o martir Sam Sebastiam tem quatro altares que sam o altar mor, e de Nossa Senhora do Rozario de Sam Marcos, e do Senhor, não tem mais que huma nave tem tres irmandades de Nossa Senhora do Rozario do Senhor e das Almas.
O parocho desta freguezia he cura he aprezentado pello Gram Prior do Gram Priorado do Cratto tem de renda dois moios de trigo, e vinte, e quatro almudes de vinho a bica, tres alqueires de azeite e dois mil reis em dinheiro que tudo vira a somar a quantia de quarenta e seis mil reis.
Não tem benefiçiado algum esta freguezia porque não tem senão o parocho.
Não tem convento de relegiozo ou relegiozas.
 

Não tem Hospital.
Não tem Caza de Mizericordia.
Não tem ermida alguma.
Não tem dia determinado para romagem.
Os frutos que os moradores desta freguezia recolhem em maior abundancia he santeio.
O juis desta terra he juis pedaneo, e governaçe pella justissa do Cratto.
Não he esta terra couto cabeça de conselho ou behetria.
Não ha memoria que desta terra sahisem ou nella floresesem homens insignes por vertudes letras ou armas.
Não tem esta terra feira alguma.
Não tem coreio e so se serve do estafeta do Cratto que vai buscar as cartas a cidade de Portalegre.
Esta terra dista da villa do Cratto huma legoa e da cidade de Lisboa trinta legoas e meia.
Monte Chamisso de Outubro seis de 1759.
O Cura Antonio Nunes
Fonte: [ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 24, nº 195, pp. 1419 a 1422]
 

domingo, 14 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, Atalaia, Atalaia Gorda, Moura

 
Foto: http://www.casaldequarta.blogspot.pt/
No cimo do monte denominado da Atalaia Gorda, que se levanta a 8,5 km, a sudeste da confluência da ribeira do Ardila com o Guadiana, e a 4,5 km a sul da vila de Moura, existem os vestígios de uma grande torre de alvenaria, que servia de atalaia à vila de Moura, pelas bandas do sul, nas direcções de Brinches, Pias e Sobral da Adiça.
Fonte: Monumentos Militares do Concelho de Moura - 2004 - João da Mouca

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, Cano, a Vila do Cano, a entrada foi mudada

 
Fonte: http://canoonline.blogs.sapo.pt/24705.html
Para quem se debate e debateu, nas entradas da sua aldeia, na maneira do povo como recebe os visitantes, de repente compadre fica estupefacto, vos dirá compadres e minhas comadres, vos dirá com o arranjo desta, este arranjo na Vila do Cano e numa entrada.
Com os azulejos comprados pelo Sr. Rovisco e pelo Sr. Joaquim Francisco, fica a sensação a compadre, se fez muita diferente e não se foi com a manada…

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, Cano, topónimo de Cano, a no concelho de Sousel

 

Ora Pinho Leal, compadres e minhas comadres, ora compadre Pinho Leal, no seu “Portugal Antigo e Moderno”,  em relação a este topónimo da freguesia: “Situada em uma fresca e aprazível planície alameda, chama-se Cano pelos muitos canos de água que por ela correm (outros dizem compadres, por um célebre cano que aqui havia em épocas remotas).
Pinho Leal, na obra citada, faz referência a duas grandes fontes que existiam no Cano no séc. XIX. Uma era a Fonte dos Olhos. A outra, compadres e minhas comadres, era a Fonte Grande.
Mas falamos na Fonte Grande…
A Fonte Grande, era um grande depósito de água, da qual saía um “granda cano” (assim mesmo o descreve o autor), que provavelmente terá estado no nome da freguesia, ou se vos dirá, da graciosa terra.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, Mosteiros, a Cascata do Pego do Inferno

 
 

Do ponto de vista hidrológico, compadres e minhas comadres, a Serra de S. Mamede funciona como um centro de distribuição das linhas de água, separando a bacia hidrográfica do rio Tejo da do rio Guadiana.
Assim, no sentido NW correm linhas de água que confluem para o rio Tejo e no sentido SE correm as que confluem para o Guadiana.
A Cascata do Inferno, um pequeno troço da ribeira de Arronches, onde é possível mergulhar e sentir um refresco na pele e corpo, especialmente nos quentes meses de Verão.
Muito perto compadres e minhas comadres, da terra de Mosteiros, aqui que nas terras que de Arronches…

sábado, 6 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, a terra de Arronches, a imagens que de Nossa Senhora

 
Nª Senhora da Luz (Assunção)
Nossa Senhora de Fátima (assunção)
Nossa Senhora da Esperança (Esperança)
Nossa Senhora da Assunção (Assunção)
Nossa Senhora do Rosário (Assunção)
Nossa Senhora da Graça (Mosteiros)
 
Foto: E. Moitas, http://arronchesemnoticias.blogspot.pt/

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, Aljustrel, Moinho, Moinho de Malpique

 
Embora seja conhecida essencialmente, compares e minhas comadres, como sendo terra de mineiros, existem à volta desta vila alentejana, cerca de 15 moinhos de vento. A grande maioria, encontra-se ao abandono ou já não desempenha as funções para as quais foi edificado.
Uma das excepções, não se sabe se é a única, é o moinho a que que actualmente se dará o nome de Moinho do Malpique.
Ele situa-se, numa elevação a sul do centro da povoação e para lá chegar mes compadres e minhas comadres, é necessário percorrer algumas, poucas, centenas de metros em caminho de terra. Apesar disso, deveis ter força no coração de olhos vossos,  aconselha-se a subida a vossemecês, pois de lá é possível abarcar uma bela panorâmica de toda a vila, além de admirar este exemplar, se vos dirá em bom estado de conservação.

Relativamente ao Moinho, a este moinho de Aljustrel que é referido, não é essa a designação correcta, embora se tornasse usual designá-lo assim. Com efeito, em mapas do final do séc. XIX e princípios do séc. XX, este Moinho é referido como Moinho do Maralhas, provavelmente o nome do proprietário da altura.
Posteriormente, já assim nos anos 40/50, assim compadres e que minhas comadres, também era conhecido por moinho do Chico Molheirinho (proprietário desse tempo). Trabalhou até aos anos 70, assim já com outro moleiro…
Dizem as vadias compadres e minhas comadres, assim que para terminar, Câmara Municipal restaurou este moinho, assim nos finais dos anos 80.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, Moura, A Lenda da Moura de Salúpia, a toponómio de Moura

 
A Lua elevava-se das bandas do Levante, pondo um orvalho de prata nas campinas frescas e perfumadas que circundavam a pequena povoação de Arucci-a-Nova.
Numa ponta da vila árabe emergia, com soberana altivez, a formosa torre circular, em cujo minarete flutuava o pavilhão sagrado de Islam.
Sobre as ruínas da antiga fortaleza mourisca que as hostes cristãs de Afonso Henriques haviam feito arrasar, após um combate heróico com os sarracenos, o chefe árabe Buaçou, companheiro de armas de Miramolim Abinussuf, — o agareno audaz e feliz, que aos cristãos tomara parte das suas conquistas em terras alentejanas, no reinado de D. Sancho I, — mandara construir e fortificar poderosamente o novo castelo e cedera-o como dote a sua filha Salúquia, que aí governava como «alcaidessa».
Salúquia era uma moura formosa, sonhadora e supersticiosa como uma boa crente do Alcorão.
Fátima e Zuleima, as dilectas companheiras, olhavam com fraternal ternura o perfil esbelto de Salúquia, a querida princesa — irmã, pródiga de sinceridade e de carinhos para com todos, que jamais sentiram a altivez sobranceira da senhora a recordar-lhes a humilhante condição de escravos.
Por isso Salúquia era adorada na sua pequena corte. Todas as tardes, mal o sol se escondia para as bandas do mar, a bela moura e a sua comitiva subiam ao minarete, e ali, então, estendendo a vista até ao círculo escuro do horizonte de serranias, passavam largo tempo desfiando lendas de guerra e de amor até à hora solene da oração a Allah, que os lábios murmuravam numa prece de fé vinda do íntimo, com tal elevação e misticismo, como se fora a própria alma a evolar-se da súplica religiosa.
Cortando o silêncio, Fátima, a moura dos olhos azuis, disse:
«Salúquia, quando o luar tiver beijado as ondas do mar e o sol abrir de novo as portas do Oriente, o teu noivo estará entre nós...
 — Que Allah o permita, Fátima!
 — E porque estás tão triste? — perguntou Zuleima.
 — Por muito o amar! — replicou Salúquia. E por muito temer! — acrescentou numa acentuação de vaga e sombria tristeza.
 — Allah protege-o, e os cristãos estão muito longe! — exclamou Fátima, numa afirmação cheia de confiança.
E Zuleima, a linda morena, filha de Granada, estendendo os braços na direcção do Oriente, procurou indicar um ponto vago e impreciso.
 — É por ali o caminho… conheço-o bem. Por ele me trouxe teu pai, como cativa.
 Salúquia elevou-se e, com ansiedade, fitou o olhar no sítio que Zuleima queria determinar, e dos seus olhos negros parecia sair uma cintilação de esperança, que a crença misteriosa de um estranho fatalismo não conseguiu amortecer nos primeiros instantes.
No entanto, Salúquia pensava por vezes que era infantil e injustificado aquele receio pela sorte do seu noivo, o príncipe mouro Bráfama, alcaide e senhor do castelo de Arucci-Vetus (hoje a vila espanhola de Aroche).
Bráfama enamorara-se perdidamente da filha de Buaçou e obtivera a permissão para os esponsais.
Salúquia correspondia-lhe com paixão cheia de fidelidade, e uma aurora de amor, que despertava nas duas almas, crescia em apoteose de intenso desejo e suprema dedicação. Era esta a sua última noite de virgem. A madrugada, que dentro de algumas horas iria despontar, traria envolta numa poeira de oiro, a finura adorada de Bráfama, o prometido esposo, o estremecido ídolo da sua imensa religião de mulher enamorada a florir na primavera dos vinte anos.
A brisa nocturna vinha rescendendo ao perfume suave das laranjeiras toucadas de branco e dos roseirais em flor, como num delicioso consórcio aromático, que tornava a atmosfera tépida e lânguida daquela noite de estio num devaneio sensual, que embalava o coração e embriagava os sentidos.
Salúquia, de olhos semi-cerrados, abandonava-se à lúbrica visão que o seu candente amor formava de estranhas e caprichosas alucinações. Parecia que a figura musculosa e varonil de Bráfama a estreitava docemente junto ao peito, encantando-a numa música de promessas venturosas, que a alma ingénua acolhia alvoroçada e receosa, Este prazer íntimo, que ela gozava em silêncio, era dum perturbador enervamento, calmo e absorvente.
Apenas, de espaço a espaço, rápidos clarões de sinistra superstição fulguravam, como centelhas dum rubro e sangrento colorido num céu tranquilo de serena esperança. Nesses momentos, o coração apertava-se-lhe numa contracção de dor, o rosto afogueava-se-lhe num rubro de ansiedade, e esta impressão torturante, duma amargura horrível, vinha a cristalizar-se nalgumas lágrimas, que tombaram dos olhos formosíssimos numa cintilação brilhante.
Fátima, confrangida do sofrimento injustificado de Salúquia, e para a distrair daqueles temores vagos, principiou uma narrativa de aventuras, uma das muitas fantasias infantis que a sua alma em criança recolhera como herança lendária da velha escrava Zara, que havia anos Allah chamara a si, talvez para ouvir os contos lindos da velha moura.
Dez léguas separavam Arucci-Vetus, a terra do noivo de Salúquia, da povoação onde esta governava como «alcaidessa», distância que se percorria no espaço duma noite, de mais a mais quando o acicate do desejo havia de esporear o cavalo de Bráfama, numa galopada alegre para a felicidade.
Ao cair da tarde, Bráfama e os seus deixaram Arucci-Vetus e puseram-se a caminho, numa caravana resplandecente de luxo e venturosa galhardia. Era uma cavalgada brilhante, em que os raios do sol, na agonia daquela tarde, punham fulgurações de luz sangrenta no reflexo rútilo das pedrarias dos turbantes dos cavaleiros e dos arreios riquíssimos dos corcéis.
Bráfama, à frente, o manto de puríssima alvura sobre o arcaboiço forte e esbelto, levava frequentes vezes a mão sobre os olhos, procurando ver através dos raios do sol que se escondia na direcção do mar a torre amada de Salúquia, quando alguma elevação de terreno mais favorável, lhe permitisse divisar a sombra minúscula do castelo, que a alma há muito entrevia antes que os olhos pudessem enxergar. Mas as sombras da noite vieram envolvê-los e, enquanto o globo rubro se escondia sob o dorso das serranias do Ocidente, a lua vinha saudá-los, trazendo-lhes na sua luz as preces e os desejos que Salúquia e as suas damas lhe confiavam, para os deixar cair, como amorosa mensageira, sobre Bráfama e os cavaleiros da comitiva nupcial.
A noite ia avançando, e a caravana, a quem a fadiga de um rápido trotar foi amortecendo lentamente o ardor festivo, caminhava silenciosamente, quebrando o eco solitário dos vales com o ruído estrepitoso de um tropel apressado, cortado de vez em quando pelo relinchar alegre dos cavalos, nos quais a espuma do cansaço punha manchas alvas sobre a cor negra do pêlo aveludado.
Das bandas do Levante elevava-se já uma aragem ligeira e fria: as estrelas iam esmaecendo no fulgor, e a porteira do Oriente surgia em toda a lucilante beleza, deixando atrás de si um rasto pálido que gradualmente ia enrubescendo e começando a tansformar em cristais doirados as pequenas gotas de orvalho que refrescavam a terra adormecida. Apenas uma légua separava Bráfama de Salúquia.
O cortejo mourisco caminhava agora num vale lindíssimo que despertava risonho e florido aos beijos do sol nascente. Umas colinas impediam ainda a visão querida do castelo da noiva.
Renascera o entusiasmo e a alegria, e a caravana galopava cheia de prazer, colhendo flores das árvores que orlavam o caminho, para as levar, como saudações frescas e coloridas, à corte Salúquia. De súbito, os cavalos deram sinais de inquietação e receio. Relinchavam fortemente e mostravam-se agitados. Bráfarna estacou e a comitiva fez alto. Entreolharam-se todos, surpresos e indecisos. Numa voz rouca de terror, um velho árabe, que seguia ao lado de Bráfama, gritou — além…, e apontava com a mão trémula, uma nuvem de poeira que avançava em turbilhão, deixando entrever armas, que reluziam ao sol, e pavilhões brancos com a cruz da Fé. 
Bráfarna exclamou:
 — São os cristãos!
 — E vêm para nós! — disse um cavaleiro árabe, moço e destemido guerreiro para quem o fragor dos combates tinha encantos e perigos que o embriagava numa epopeia de heroísmos. Desembainhando, num movimento rápido, a lâmina curva e brilhante, exclamou:
 — Vamos a eles!... Allah seja por nós e atirou o cavalo numa correria doida ao encontro da morte.
 Bráfama reconheceu o perigo inevitável. Os cristãos estavam perto. Era um bando superior em número aos cavaleiros sarracenos; tinham além disso, sobre eles, a vantagem de vir aprestados e armados para o combate, enquanto Bráfama e os seus caminhavam para uma festa de núpcias. Era, portanto, a morte certa, fatal, irremediável. Mas um crente de Allah nunca foge, e encara a morte, sempre, frente a frente.
Pálido, um pouco trémulo, os olhos quase velados por uma neblina dolorosa que do coração lhe subia, Bráfama encarou a sua gente e disse-lhe:
 — Irmãos… é a morte! Allah assim o quis. E, tirando do peito uma rosa branca que colhera para oferecer à noiva, beijou-a demoradamente, e ao soltar os lábios daquele misterioso beijo, elevou os olhos turvos de lágrimas para o céu, agora fulgurante de oiro, parecendo-lhe ver no fundo azul um castelo em festa, onde uma figura linda de mulher, branca como a lua e formosa como a estrela da manhã que a sua vista ainda há pouco namorava, estendia para ele languidamente o braço, para receber a rosa em que os seus lábios haviam deposto, como num puro relicário, toda a alma dum imenso e infeliz amor.
Em seguida, voltando-se para a comitiva, disse num tom quase de súplica:
Se alguém se salvar, leve a Salúquia esta flor, e escondeu-a sob o manto, junto ao coração. Depois, num impulso rápido, renasceu o guerreiro e, sacando com energia o alfange, esporeou o cavalo a defrontar-se com o inimigo. Todos o seguiram com a mesma coragem e rapidez, e o cortejo de núpcias transformou-se numa cavalgada de morte.
Os soldados da cruz eram comandados por dois irmãos, Álvaro Rodrigues e Pedro Rodrigues, dois heróicos combatentes que vinham assolando o Alentejo, com o extermínio feroz das hostes sarracenas. Chegou o momento supremo. Os dois bandos acometeram-se com um furor de ódio e vingança. Confundiam-se as imprecações selvagens dos discípulos do crescente com os gritos de morte dos defensores da cruz.
Alfanges e adagas fulgiam em crispações de fogo e em manchas vermelhas de sangue a referver no ódio. Os cristãos, ao fim de poucos momentos, levavam os moiros de vencida. Tinham a vantagem do número e a preparação para a luta naquele momento. Os Árabes resistiam enquanto um sopro de vida lhes animou o braço rijo e destemido. Finalmente, sucumbiram todos.
Álvaro Rodrigues matara Bráfama, que tombou do cavalo murmurando palavras que os cristãos não puderam compreender.
Era preciso agora fazer o resto: tomar a vila de «Arucci-a-Nova». E Pedro Rodrigues lembrou um ardiloso expediente que havia de surtir efeito.
imediatamente os cadáveres foram despojados das vestimentas, que os soldados cristãos envergaram soltando gargalhadas e exclamações alegres.
Álvaro Rodrigues quis embrulhar-se no manto de Bráfama, o seu adversário morto; um soldado trouxe-lho; envolveu-se nele, meio enrolado, procurando ocultar as nódoas vermelhas do sangue do sarraceno, destacando-se como flores rubras sobre a alvura puríssima e brilhante. E, numa mascarada macabra e traiçoeira, o bando cristão encaminhou-se em galope rápido para a vila mourisca, atroando os ares com gritos de simulação festiva e exclamações árabes de saudação e alegria.
Ao divisar ao longe um turbilhão de poeira que avançava rápidamente, Salúquia e todas as escravas ergueram-se apressadamente num ímpeto de júbilo e curiosidade. Eram eles; em voz trémula, ordenou que fossem abertas as portas da vila e que gente da sua corte lhes fosse prestar as honras da recepção.
Correram os moiros da pequena terra a franquear as entradas, enquanto sobre o minarete Fátima, Zuleima e a deslumbrante corte feminina da «alcaidessa» preparavam um dilúvio de pétalas de rosas, para caírem como beijos alados sobre o cortejo desejado de Bráfama.
Os falsos mouros entraram, como uma rajada de sangue, nas muralhas em festa de Arucci-a-Nova. E no ar misuravam-se os ecos alegres das saudações dos Árabes aos gritos de extermínio da legião cristã.
Um grupo de agarenos fugiu em direcção ao castelo a avisar Salúquia do traiçoeiro ardil. Era impossível a resistência. A vila estava nas mãos dos cristãos que continuavam a espalhar a morte numa sementeira de ódio religioso, fatal e sanguinolento.
Salúquia teve, num momento, a visão rápida da tragédia. Pareceu-lhe ver ainda o noivo enviando no sopro da agonia o beijo nupcial, que os inimigos transformaram numa lágrima rubra a gelar na morte.
A nuvem do fatalismo que parara, como presságio, sobre o seu coração em toda aquela noite, convertera-se na tremenda tempestade de luto, assoladora como um furacão de dor e de desgraça.
As mulheres árabes soltavam gritos e ajoelhavam, elevando as mãos ao céu numa súplica de desespero e de fé. Lá fora rugia, cada vez mais intensa, a onda de aniquilação saída das adagas dos soldados da cruz, galgando, numa galopada sinistra, o curto caminho que conduzia ao castelo da governadora.
Salúquia, figura pálida e grandiosa neste drama horrível, parecia lançar um estranho desafio à legião que a ameaçava, pela serenidade do porte que as lágrimas já não vinham sentimentalizar.
Numa frase rápida, decisiva e firme, mandou que fossem cerrar as portas do seu castelo (último reduto ainda não conquistado). E, enquanto a ordem foi executada, passeava, serena e heróica, de um lado a outro lado do minarete, afogando o olhar no sangue que corria em toda a povoação, envolta na prece extrema que os lábios dolorosos das suas escravas enviavam a Allah, por suprema esperança de almas perdidas.
Trouxeram-lhe as chaves momentos depois, quando ao castelo chegava a vanguarda dos irmãos Rodrigues.
As portas estavam fechadas.
Era apenas um instante de demora, o tempo preciso para as forçar violentamente. E o trabalho começou, reforçado daí a pouco pelos que vinham depois, atroando os ares num ruído formidável que cobria as vozes clamorosas dos sitiados na sua crescente litania de angústia.
Salúquia subiu ao ponto mais elevado do minarete, apertando nervosamente numa das mãos as chaves da fortaleza, e num impulso rápido, do valerosa resolução do heroísmo, atirou-se ao espaço. Um espantoso grito de dor aflorou a todas as bocas:
 — Salúquia! — e correram a debruçar-se à muralha do minarete.
Na esplanada do castelo, pálida e linda, com um fio de sangue a manchar-lhe o rosto num sulco de morte, ela lá estava guardando heróicamente nas mãos fechadas, numa crispação de energia que a morte petreficava, as chaves do castelo árabe, de onde ia abater-se a bandeira rubra do Islam.
As portas ainda não estavam forçadas, e um dos cristãos ia arrancar brutalmente das mãos de Salúquia as chaves da fortaleza. Álvaro Rodrigues deteve-o. Fez-se na consciência um relâmpago de justiça, e sentiu esmagado o seu orgulho de conquistador perante aquele cadáver que era uma grande lição de heroicidade. Curvou-se sobre a morta e com uma dobra do manto de Bráfama, quis limpar-lhe a mancha de sangue que empanava um pouco a formosura do rosto de Salúquia; nesse momento o manto soltou-se e tombou de oculta prega uma rosa branca, em cujas pétalas havia nódoas estranhas de cor vermelha. E a rosa caiu num deslizar suave, sobre os lábios frios da princesa moura.
Era a rosa de Bráfama, que este escondera junto ao coração, e que o golpe mortal da adaga de Álvaro Rodrigues aljofrara num orvalho de sangue. A flor cumpria a sagrada súplica do noivo de Salúquia. O sangue de ambos misturou-se naquele ósculo fatal e perfumado, através das pétalas de uma rosa de misterioso destino.
O capitão português descobriu-se num gesto de respeito e ordenou homenagens fúnebres, solenes, grandiosas; e como preito imortal ao acto de bizarro valor, proclamou que «Arueci-a-Nova» passaria a denominar-se a vila de Moura.
E assim, através dos tempos, das raças e das gerações, vai perpetuando a minha linda e adorável terra alentejana a lenda dolorosa de Salúquia, cuja imagem pálida e formosa eu sonho a debruçar-se no velho castelo em ruínas, pelas noites luminosas e odoríferas como aquela do seu noivado de morte, que o destino transformou na manhã vermelha de uma epopeia de supremo heroísmo.
Fonte: Manuel Joaquim Delgado, A Etnografia e o Folclore no Baixo Alentejo, Assembleia Distrital de Beja, págs. 244-250.
 




Bom Dia Alentejo, Évora, as Termas Romanas de Évora, a maior que descoberta


As Termas Romanas de Évora, terão sido compadres e minhas comadres, construídas entre os séculos II e III. Foram descobertas no final de 1987, aquando das escavações arqueológicas, na parte mais antiga do edifício da Câmara Municipal da cidade, no Largo do Sertório, e que dizem, compadres e minhas comadres, possivelmente também, o maior edifício público da Évora Romana.
Para além da questão da higiene, as termas eram locais onde os cidadãos podiam conversar, conviver e até negociar.

As cidades em que os Romanos habitavam eram compostas por vários serviços para garantir a higiene, limpeza e conforto dos seus habitantes. Daí a sua preocupação com o abastecimento de água. Para isso construíam aquedutos.
As Termas Romanas de Évora na Câmara Municipal têm uma área de cerca de 300 m2 e, como todas as termas romanas, são compostas por três áreas distintas: o Laconicum, o Praefurnium e a Natatio.
O Laconicum, sala circular com abóbada nervurada e estrelada, revestido com placas de mármore, era utilizado para banhos quentes e de vapor. Esta era a sala com a temperatura mais alta.

No seu centro encontrava-se um grande tanque circular embutido no solo, com três degraus, rodeado de um sistema de aquecimento, o hipocaustum.
No Praefurnium, espaço escavado apenas parcialmente, pode ver-se uma fornalha, onde se queimaria a lenha para levar ar quente, por exemplo, ao hipocaustum do laconicum. Este servia de sistema central de aquecimento da água e do ar das outras salas.
A Natatio, era uma piscina retangular ao ar livre, rodeada de pórticos. No lado leste da piscina eram lançadas as águas das termas. Pensa-se que estas águas eram trazidas por um aqueduto próprio que, possivelmente, terá sido o antecessor do Aqueduto da Água de Prata.
Não se sabe compadres e comadres, se o projecto de musealização já começou. Estava previsto para 2015…

terça-feira, 2 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, Mértola, a Ponte-Barca no Guadiana

 

Antes de ser construída a ponte em Mértola, no início dos anos sessenta, todo o tráfego era feito atravessando o Guadiana, de barco ou na chamada ponte-barca. No Inverno, durante as cheias, a margem esquerda ficava isolada.
Havia bilhetes para vários tipos de transporte: para camionetas, automóveis, carros de mulas ...
Era o trigo e outros cereais, o gado, mas também todo o movimento de pessoas e mercadorias de quem vinha do lado de Serpa ou da movimentada Mina de S. Domingos e dos muitos "montes" da Margem Esquerda.
Foi ao fundo com uma camioneta. Por lá ainda deve estar, que o rio é fundo neste local...
Fonte: João F.B. R. Simas, http://ruadealconxel.blogspot.pt

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Bom Dia Alentejo, Arraiolos, a Aldeia da Terra

 

 
Está em constante construção, é de barro e localiza-se em Arraiolos. Chama-se Aldeia da Terra e, com uma área de três mil metros quadrados, tem tudo o que as aldeias portuguesas do interior deviam ter: ruas pavimentadas, praças, cafés, livrarias, escolas, carros, e pessoas... 
O construtor desta aldeia é Tiago Cabeças e a pintora é a sua mulher, Magda Ventura. 
O cenário, apesar de estar imóvel, transmite vida. As pessoas, os animais e os carros transmitem-nos movimento.