domingo, 13 de julho de 2014

Bom Dia Alentejo, Topónimo de Portalegre, uma Cidade vai pela serra, uma terra olha o vale

 
O que corre não passa duma lenda deixar-nos supor a origem desta formosa cidade do Alto Alentejo mais favorecida pela natureza do que pelos homens.
Frei Amador Arrais conta-nos que a cidade foi edificada com o material que se aproveitou da cidade de Medobriga, fundada por Brigo, 4.º rei de Espanha.
Mais nos diz que tudo isto se passou cerca de 1900 anos antes da era cristã. Segundo a lenda teria sido um filho de Baco, de nome Lysias, que um dia, achando lindas estas paragens, mandou edificar uma fortaleza e um templo que consagrou a Dionísio ou Baco.
Tais construções teriam existido no sítio onde está a ermida de S. Cristóvão, sítio que domina a cidade actual. Ali perto, o arroio que corre, ainda hoje é chamado o ribeiro do Baco.
Embora faltem os elementos necessários para o provar, o que parece averiguado é que PORTALEGRE já existia nos tempos dos romanos, ainda que com outra localização não longe da actual.
Segundo a mesma lenda, Lysias, ao fundar a povoação, deu-lhe o nome AMAYA ou AMEYA. A origem de tal nome deve ter vindo do de uma filha do fundador citado, chamada MAIA. Ambos foram sepultados no referido templo.
Os romanos não mudaram o nome e a AMAYA ou AMEYA tornou-se em ruínas e ficou sem população, devido às lutas constantes da Idade Média.
Em 1259, D. Afonso III mandou-a reedificar em sítio onde existiam umas vendas que eram conhecidas por Portelos. Deve ter vindo daqui e da beleza do local o nome Portalegre.
As vendas de Portelos supõe-se que existiriam no local onde mais tarde se edificou a Igreja de S. Bartolomeu, que também já não existe. À volta deste sítio se foram então construindo edifícios com os materiais que existiam da extinta, ou quase, AMAYA.
Aconteceu, porém, coisa idêntica com a nova povoação, pois as lutas entre mouros e cristãos continuaram e no seu horror e na sua violência a destruiram.
Transformada em ruínas, os habitantes que sobreviveram tiveram que a abandonar.
Em 1290, D. Dinis mandou construir um forte castelo, que já também não existe, duas cercas de possantes muralhas, que tinham doze torres e oito portas. Estas tinham os nomes de: Teresa, Postigo, de Alegrete, de Elvas, de Evora, do Espírito Santo, de S. Francisco e do Bispo ou de Crato, algumas das quais ainda existem. As muralhas estão igualmente em bom estado de conservação.
O mais notável é que D. Dinis veio a tirar a prova de resistência da fortificação. A população de Portalegre tomou o partido de seu irmão D. Afonso, o qual se orgulhava do senhorio da localidade. O rei teve de pôr cerco à vila, cerco que durou cerca de cinco meses, acabando pela rendição dos sitiados.
D. João III criou o bispado em 1549.
Há uma versão que diz ter vindo o nome da cidade de PORTALEGRE de Portus Alacer. Portus era um sítio entre Penha de S. Tomé e o Cabeço do Mouro e Alecer veio da bela situação da povoação.
Da Crónica de Portalegre, de Casimiro Mourato, inserta no Boletim da Casa do Alentejo, Ano XIX, Maio de 1954, N.º 205.
 
PORTALEGRE derivou de Porto Alegre. Porto significou (como já no latim portus) passagem e neste sentido também se empregou e emprega em português a significar passo ou terra entre montes.
O adjectivo alegre de certo qualificou a alegria da paisagem. Como se sabe, a paisagem é idílica naquele porto alegre, enquadrado pela Serra de S. Mamede e alturas de Marvão e Castelo de Vide.
Note-se que as pessoas de fora dizem Purtalegre; mas Pórtalégre é a pronúncia popular, o que ajuda a confirmar a formação: porto-alegre.
O povo e a Língua, do Prof. Vasco Botelho de Amaral, inserto no Mensário das Casas do Povo – Ano IV (Outubro de 1949) – N.º 40 – Pág. 16