O que corre não passa
duma lenda deixar-nos supor a origem desta formosa cidade do Alto Alentejo mais
favorecida pela natureza do que pelos homens.
Frei Amador Arrais
conta-nos que a cidade foi edificada com o material que se aproveitou da cidade
de Medobriga, fundada por Brigo, 4.º rei de Espanha.
Mais nos diz que tudo
isto se passou cerca de 1900 anos antes da era cristã. Segundo a lenda teria
sido um filho de Baco, de nome Lysias, que um dia, achando lindas estas
paragens, mandou edificar uma fortaleza e um templo que consagrou a Dionísio ou
Baco.
Tais construções
teriam existido no sítio onde está a ermida de S. Cristóvão, sítio que domina a
cidade actual. Ali perto, o arroio que corre, ainda hoje é chamado o ribeiro do
Baco.
Embora faltem os
elementos necessários para o provar, o que parece averiguado é que PORTALEGRE
já existia nos tempos dos romanos, ainda que com outra localização não longe da
actual.
Segundo a mesma
lenda, Lysias, ao fundar a povoação, deu-lhe o nome AMAYA ou AMEYA. A origem de
tal nome deve ter vindo do de uma filha do fundador citado, chamada MAIA. Ambos
foram sepultados no referido templo.
Os romanos não
mudaram o nome e a AMAYA ou AMEYA tornou-se em ruínas e ficou sem população,
devido às lutas constantes da Idade Média.
Em 1259, D. Afonso
III mandou-a reedificar em sítio onde existiam umas vendas que eram conhecidas
por Portelos. Deve ter vindo daqui e da beleza do local o nome Portalegre.
As vendas de Portelos
supõe-se que existiriam no local onde mais tarde se edificou a Igreja de S.
Bartolomeu, que também já não existe. À volta deste sítio se foram então
construindo edifícios com os materiais que existiam da extinta, ou quase,
AMAYA.
Aconteceu, porém,
coisa idêntica com a nova povoação, pois as lutas entre mouros e cristãos
continuaram e no seu horror e na sua violência a destruiram.
Transformada em
ruínas, os habitantes que sobreviveram tiveram que a abandonar.
Em 1290, D. Dinis
mandou construir um forte castelo, que já também não existe, duas cercas de possantes
muralhas, que tinham doze torres e oito portas. Estas tinham os nomes de:
Teresa, Postigo, de Alegrete, de Elvas, de Evora, do Espírito Santo, de S.
Francisco e do Bispo ou de Crato, algumas das quais ainda existem. As muralhas
estão igualmente em bom estado de conservação.
O mais notável é que
D. Dinis veio a tirar a prova de resistência da fortificação. A população de
Portalegre tomou o partido de seu irmão D. Afonso, o qual se orgulhava do
senhorio da localidade. O rei teve de pôr cerco à vila, cerco que durou cerca
de cinco meses, acabando pela rendição dos sitiados.
D. João III criou o
bispado em 1549.
Há uma versão que diz
ter vindo o nome da cidade de PORTALEGRE de Portus Alacer. Portus era um sítio
entre Penha de S. Tomé e o Cabeço do Mouro e Alecer veio da bela situação da
povoação.
Da
Crónica de Portalegre, de Casimiro Mourato, inserta no Boletim da Casa do
Alentejo, Ano XIX, Maio de 1954, N.º 205.
PORTALEGRE derivou de
Porto Alegre. Porto significou (como já no latim portus) passagem e neste
sentido também se empregou e emprega em português a significar passo ou terra
entre montes.
O adjectivo alegre de
certo qualificou a alegria da paisagem. Como se sabe, a paisagem é idílica
naquele porto alegre, enquadrado pela Serra de S. Mamede e alturas de Marvão e
Castelo de Vide.
Note-se que as
pessoas de fora dizem Purtalegre; mas Pórtalégre é a pronúncia popular, o que
ajuda a confirmar a formação: porto-alegre.
O
povo e a Língua, do Prof. Vasco Botelho de Amaral, inserto no Mensário das
Casas do Povo – Ano IV (Outubro de 1949) – N.º 40 – Pág. 16