Junto desta freguesia - estamos a falar da terra do Monte da Pedra no Crato -
corre huma ribeira, que devide com o seu curso o lemite desta do lemite da
freguezia da Comenda termo da villa de Belver deste Grão Priorado do Cratto
servindo de metta a ambas as freguezias; esta ribeira chama se Sor; tem seu principio
em o lemite de hum povo, que se chama Alagoa, que he do termo, e bispado da
cidade de Portalegre.
Não principia
caudalozo, nem corre todo o anno; porque ate esta freguezia não corre de Verão,
porem desta freguezia para baixo corre todo o anno.
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Entrão em esta
ribeira outras mais pequenas, que de Inverno lhe communicão muita agoa; dos
quais a primeira, que entra na ditta ribeira de Sor, se chama a ribeira do Caldeireiro,
e outros lhe chamão a ribeira da Granja, a qual entra na mesma ribeira de Sor
no sitio chamado o Aguilhão, que he do termo da villa de Gaffete deste mesmo Priorado.
A segunda ribeira,
que entra na ditta ribeira de Sor, he a que chamão a ribeyra do Monte da Pedra,
a qual entra na mesma ribeira de Sor no sitio chamado a Bica, he lemite desta
freguezia.
A terceira ribeira
que entra na mesma ribeira de Sor he a que se chama a ribeira dos Valles, a
qual entra na ditta ribeira de Sor no sitio chamado o Sourinho, que he lemite desta freguezia; a quarta ribeira, que entra na mesma
ribeira de Sor he a que se chama a ribeira de Sam Payo, outros lhe chamão a
ribeira de Sipilheira, a qual entra na ditta ribeira de Sor no sitio chamado o
Forneco, que tãobem he lemite desta freguezia.
Esta ribeira de Sor
não he navegavel pelas muitas pedras, e safras que tem em todo este lemite nem
embarcação alguma pode andar nesta ribeira em todo este lemite, posto que em
alguñs tempos pela muita agoa que leva não dá passagem a niguem.
He de curso muito
arrebatado em todo o lemite desta freguezia.
Esta ribeira chamada
Sor corre do nascente para o poente; e todas as ribeiras declaradas no
interrogatorio terceiro, que sam as que se metem na ribeira de Sor, correm do
sul para o norte.
Em esta ribeira de
Sor não se fazem pescarias, so sim se se [sic] fazem por divertimento; porem
não tem tempo certo, mas o mais comum he de Verão por cauza das agoas serem de
Inverno muito frias, e arrebatadas.
Nesta ribeira de Sor
em todo este lemite, pesca livremente quem quer.
No limite desta
freguezia do Monte da Pedra poucas margeñs desta ribeira de Sor se cultivam;
porque he tão fragozo, que em poucas partes se descobre terra para esse effeito,
porem se em alguma se descobre terra, e he capaz, cultiva se; e tem esta
ribeira de Sor bastante arvoredo que dá fruto, como he = azinho, carvalho, e
soro; e silvestre tem pouco.
Esta ribeira de Sor
desde honde principia ate Curuche chama se Sor, e de Curuche ate Benevente
chama se a ribeira de Curuche, outros chamam lhe Sorraya, e outros lhe darão
diversos nomes, mas ao prezente so destes me consta.
Esta ribeira de Sor
morre em o rio Tejo em a villa de Benevente.
Sendo esta ribeira de
Sor no seu curso tão arrebatada, e principalmente em o lemite desta freguezia;
se encontra em ella muita cachoeyra; porem a mayor he a de que se faz mensão no interrogatorio quinto da noticia desta terra, pelo que he impossivel
fazer se navegavel, ahinda em tempo de abundancia de agoa.
Não consta que esta
ribeira de Sor tenha mais que duas pontes, huma em a villa de Tholoza, e he de
cantaria, e a outra em o lemite desta freguezia no sitio chamado o Sourinho, a
qual está demolida, e so agora existem os dois arcos principais della, e eles testeficão
a grandeza, e eminencia da ponte, a qual tãobem era de cantaria, porque os dois
arcos que ahinda hoje existem, conservão os seus fexos ahinda direitos, e
ahinda hoje, quando a ribeira leva muita agoa, passa gente por ella a pe
enxuto.
Esta ribeira de Sor
não tem no lemite deste Monte da Pedra mais que tão somente hum moinho. Não ha
noticia alguma que nas aréas desta ribeira de Sor se tira se em algum tempo ouro,
nem ha memoria de tal coiza, e muito menos ha noticia, que no prezente tempo se
tire ouro em suas aréas.
A ribeira de Sor
desde honde principia, que na aldeya da Alagoa, como ja se dice no primeiro
interrogatorio, ate honde acaba que he na villa de Benevente, como ja se dice no
interrogatorio decimo terceiro, tem tem [sic] de distancia vinte legoas
\segundo se diz\ e os povos por honde passa sam os seguintes = principia em
Alagoa, e passa por entre os termos das villas de Alpalhão, e Gaffete, e dahi
vem passar junto da villa de Tholoza, e vem passar junto desta freguezia, corre
junto do Monte do Sume; como se dice no interrogatorio quinto, da noticia desta
terra, corre junto da Torre das Vargeñs, que he coutada do Marques de Fronteira, e vai correr junto da villa da Ponte de
Sor, e dahi vai correndo ate chegar a Montrangil juncto [sic] de quem corre, e
vai correr tãobem junto de Curuche, e finalmente passa á villa de Benevente
ahonde, se diz, morre no rio Tejo.
Monte da Pedra de
Oitubro seis de 1759.
O reyttor cura Frey
Manoel Dias Laberão de Almeyda.
Fonte:
ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 24, nº 201, pp. 1507 a
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