A Safra a Moura é um conjunto de enormes massas
graníticas, situada entre Tolosae a Ribeira do Sor, junto à Estrada Nacional
n.º 118.
No seu interior, há uma espécie de refúgio, que tudo
indica ser habitado, tendo em conta o seu aspecto.
Na realidade, a cobertura fuliginosa das pedras faz
concluir que ali o fogo foi várias vezes ateado.
Segundo a lenda, durante as lutas da Reconquista
Cristã, foi lá um cavaleiro mouro se refugiou com sua esposa, quando era
procurado e perseguido pelos companheiros de armas.
Certa noite, abandonou o acampamento e partiu na
companhia da sua inseparável esposa. Deixou então uma carta dirigida ao
comandante do exército:
"Conheceis-me bastante bem para concluíres que
não é o medo da luta que me torna desertor. Nunca receei o confronto com o
inimigo. As minhas armas nunca se baixaram, quando o perigo e a morte mais se
avizinhavam. Mas, pensei longamente nas razões invocadas para sustentar esta
guerra, sem nunca ter encontrado uma única razão que a justificasse. Sempre
ouvi fundamentar esta terrível contenda na incompatibilidade religiosa entre a
Cruz e o Crescente. Semelhante justificação não passa de uma falsidade, com o
fim de encobrir os desejos expansionistas dos soberanos que tiranicamente nos
governam."
Foram oferecidas quantias vultuosas a quem denunciasse
o esconderijo do jovem mourisco.
Muitas pessoas da vizinhança foram largamente
interrogadas. Mas ninguém violou o segredo. Embora cheios de fome e sofrendo as
maiores carências, todos recusaram o ouro da traição e da denúncia.
O povo foi largamente compensado pela sua dedicação e
firmeza. Não havia miséria que a jovem moura não socorresse, não havia sofrimento
que ela não aliviasse, graças à enorme fortuna trazida para o seu esconderijo e
aos largos conhecimentos de medicina constantemente evidenciados.
O cavaleiro mouro, porém, pouco aparecia. Nas raras
vezes que era visto, apresentava sempre uma expressão triste e pouco
comunicativa. O prestígio da esposa ainda mais o apagava aos olhos do povo.
Muitos duvidavam da sua bondade.
Certo dia, uma pobre
viúva, já fraca e curvada por tantos anos de sofrimento e miséria, encheu-se de
coragem e foi à Safra implorar o auxílio e protecção da encantadora moura. Logo
o seu coração se encheu de tristeza, ao ser recebida pelo marido. Porém, fazendo
apelo à coragem, lá desfiou o seu rosário de lamentações. O cavaleiro ouviu-a
pacientemente e entrou no interior do seu palácio subterrâneo. Regressou com
uma cesta de carvões que ofereceu à pobre mulher.
Ela lá partiu
desalentada, maldizendo a sua sorte. Pelo caminho, foi deitando fora bagos de
carvão. para se aquecer ainda tinha alguma lenha... Precisava, sim de aquecer o
estômago, e para isso não via remédio!...
Quando chegou a casa,
dominada pelo desespero, esmagou o último bago de carvão que lhe restava.
Porém, qual não foi o seu espanto, quando viu apareceu debaixo dos seus pés uma
moeda de ouro, saída do interior daquelas partículas negras!
Imediatamente saiu de
casa, trilhou o mesmo caminho, procurando insistentemente os carvões
abandonados. Todos tinham desaparecido!...
Junto à Safra, o
cavaleiro mouro aguardava a sua chegada. Disse-lhe então:
- Ouve, boa mulher,
quando vi a dúvida e a tristeza vincadas no teu rosto, resolvi seguir-te, pois
já esperava que deitasses fora os carvões. Aqui os tens novamente. Leva-os
contigo e alivia a tua pobreza com essas moedas. Não queiras avaliar as pessoas
pela aparência!
Acredita que,
enquanto a minha mulher distribui a comida e combate a doença, sou eu que aqui
trabalho de dia e noite, preparando os alimentos e os remédios.
A partir dessa
altura, depressa se espalharam as virtudes e as bondades do cavaleiro. O jovem
casal todos os dias recebia provas do maior carinho e agradecimento
A felicidade e a alegria, trazidas pelo casal
mourisco, viveram muitos anos entre o povo humilde desta região.
Fonte: Pequena Monografia de Tolosa, Alzira
Maria Filipe Leitão
Bom Dia Alentejo!