sábado, 15 de fevereiro de 2014

Bom Dia Alentejo, Marvão, a que Castelo de Marvão, a virilidade que lhe pariu a doçura


Está a antiquíssima vila de Marvão situada no plató que encima o mais alto cabeço da serra deste nome, cota de 862m., a serra de Hermênho lusitana, que os Romanos traduziram por Herminius Minor, a qual se levanta em escarpa viva, quase inacessível por todos os lados, com grande comandamento sobre a margem esquerda do rio Sever, a 0,8 Km a norte da ponte romana da Portagem, sobre esse rio, a 4 Km, a noroeste da Salada, 822, e a 12,5 Km a nor-nordeste da cidade de Portalegre, a 1º 45` 20`` de longitude leste e a 39º 24` 10`` da latitude norte.
Toda a população da vila de Marvão está dentro de uma vetusta medieval, composta de uma forte cidadela, com sua torre de menagem e uma cerca amuralhada, apoiada em várias torres, tudo em regular estado de conservação.
Dada a situação, a natureza e o grande valor militar da sua posição, quase inexpugnável, pelo alcantilado das encostas do monte, e os numerosos vestígios e achados das remotas épocas do neolítico e dos metais, é de presumir que na origem a fortaleza de Marvão tivesse consistido num castro de povoamento com o nome de Aramenha.
Fundada pelos Vetões, primeiros Hermínios Menores (maciços de S. Mamede, Serra Fria, da Salada, de Marvão e do Facho), coevos dos aborígenes dos Hermínios Maiores, constituía já uma grande e poderosa Citânia quando os Túrdulos-os-Novos, forçados a abandonar as terras da serra de Sintra, devido ao seu afundamento, vieram acolher-se, nos fins do século XI a. C., à protecção dos castros lusitanos. Eles deveriam ter contribuído muito para a prosperidade de Marvão.
Nos meados do século IX a. C., os Celtas e Celtiberos, descendo do planalto da Castela, ao longo do vale do Tejo, vieram estabelecer-se em Marvão, a que deram o nome de Medobriga, reservando o de Aramenha para a nova cidade que eles fundaram junto da margem esquerda do Sever, na orla sul da actual povoação de S. Salvador.
 

Os Romanos, que por sua vez, tomaram Medobriga no ano 44 a. C., remodelaram a fortaleza segundo a sua técnica castrense e constituíram nela uma forte base militar de ocupação e centro político e administrativo. Para a Aramenha dos Celtas reservaram a parte económica e industrial, pelo que passou também a designar-se por Medobriga.
A Medobriga romana, mercê da robustez e valor militar da fortaleza, e da bravura indómita dos seus moradores, resistiu sempre aos ataques dos Vândalos, Alanos e Mouros, conservando sempre a independência, até que em 770 foi tomada por surpresa pelo mouro Maruan ou Marvan, senhor de Coimbra, que, depois do massacre dos seus habitantes, mandou repovoar a vila e remodelar a fortaleza, dando-lhe o seu nome.
D. Afonso Henriques a tomou aos Mouros, em 1166, e reconhecendo o seu enorme valor militar, como posição forte e situação estratégica, para a defesa contra os Mouros e Leoneses, mandou logo restaurar a fortaleza moura. Instituiu ali um couto para melhor assegurar a defesa e povoamento e fez Marvão vila e cabeça do concelho.
D. Sancho II mandou também reedificar e ampliar a fortaleza de Marvão, dando-lhe o primeiro foral em 1226.
D. Dinis mandou remodelar o castelo e torre de menagem e construir uma nova cerca de muralhas em 1299. D. Manuel mandou também restaurar a fortaleza medieval de D. Dinis, concedendo novo foral à vila, em 1 de Junho de 1512, em Lisboa.
Durante as guerras de Restauração foram restauradas as fortificações medievais de Marvão e fizeram-se algumas obras segundo o sistema abaluartado, designadamente os fortins das Portas da Vila e da Ponte do Ródão, ainda em regular estado de conservação, ficando a constituir uma das mais fortes praças para defesa da nossa fronteira com a Espanha.
Toda a fortaleza está em regular estado de conservação, tendo-se feito modernamente muitas obras de restauro no castelo, por conta da Liga dos Amigos do Castelo de Marvão; e dentro da vila existem ainda duas cisternas, uma das quais podia fornecer água para seis meses à guarnição da fortaleza e habitantes da vila, e outra, mais pequena, de água nativa.
Fonte: Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, General João de Almeida