Está a antiquíssima
vila de Marvão situada no plató que encima o mais alto cabeço da serra deste
nome, cota de 862m., a serra de Hermênho lusitana, que os Romanos traduziram
por Herminius Minor, a qual se levanta em escarpa viva, quase inacessível por
todos os lados, com grande comandamento sobre a margem esquerda do rio Sever, a
0,8 Km a norte da ponte romana da Portagem, sobre esse rio, a 4 Km, a noroeste
da Salada, 822, e a 12,5 Km a nor-nordeste da cidade de Portalegre, a 1º 45`
20`` de longitude leste e a 39º 24` 10`` da latitude norte.
Toda a população da
vila de Marvão está dentro de uma vetusta medieval, composta de uma forte
cidadela, com sua torre de menagem e uma cerca amuralhada, apoiada em várias
torres, tudo em regular estado de conservação.
Dada a situação, a
natureza e o grande valor militar da sua posição, quase inexpugnável, pelo
alcantilado das encostas do monte, e os numerosos vestígios e achados das
remotas épocas do neolítico e dos metais, é de presumir que na origem a
fortaleza de Marvão tivesse consistido num castro de povoamento com o nome de
Aramenha.
Fundada pelos Vetões,
primeiros Hermínios Menores (maciços de S. Mamede, Serra Fria, da Salada, de
Marvão e do Facho), coevos dos aborígenes dos Hermínios Maiores, constituía já
uma grande e poderosa Citânia quando os Túrdulos-os-Novos, forçados a abandonar
as terras da serra de Sintra, devido ao seu afundamento, vieram acolher-se, nos
fins do século XI a. C., à protecção dos castros lusitanos. Eles deveriam ter
contribuído muito para a prosperidade de Marvão.
Nos meados do século
IX a. C., os Celtas e Celtiberos, descendo do planalto da Castela, ao longo do
vale do Tejo, vieram estabelecer-se em Marvão, a que deram o nome de Medobriga,
reservando o de Aramenha para a nova cidade que eles fundaram junto da margem
esquerda do Sever, na orla sul da actual povoação de S. Salvador.
Os Romanos, que por
sua vez, tomaram Medobriga no ano 44 a. C., remodelaram a fortaleza segundo a
sua técnica castrense e constituíram nela uma forte base militar de ocupação e
centro político e administrativo. Para a Aramenha dos Celtas reservaram a parte
económica e industrial, pelo que passou também a designar-se por Medobriga.
A Medobriga romana,
mercê da robustez e valor militar da fortaleza, e da bravura indómita dos seus
moradores, resistiu sempre aos ataques dos Vândalos, Alanos e Mouros,
conservando sempre a independência, até que em 770 foi tomada por surpresa pelo
mouro Maruan ou Marvan, senhor de Coimbra, que, depois do massacre dos seus
habitantes, mandou repovoar a vila e remodelar a fortaleza, dando-lhe o seu
nome.
D. Afonso Henriques a
tomou aos Mouros, em 1166, e reconhecendo o seu enorme valor militar, como
posição forte e situação estratégica, para a defesa contra os Mouros e
Leoneses, mandou logo restaurar a fortaleza moura. Instituiu ali um couto para
melhor assegurar a defesa e povoamento e fez Marvão vila e cabeça do concelho.
D. Sancho II mandou
também reedificar e ampliar a fortaleza de Marvão, dando-lhe o primeiro foral
em 1226.
D. Dinis mandou
remodelar o castelo e torre de menagem e construir uma nova cerca de muralhas
em 1299. D. Manuel mandou também restaurar a fortaleza medieval de D. Dinis,
concedendo novo foral à vila, em 1 de Junho de 1512, em Lisboa.
Durante as guerras de
Restauração foram restauradas as fortificações medievais de Marvão e fizeram-se
algumas obras segundo o sistema abaluartado, designadamente os fortins das
Portas da Vila e da Ponte do Ródão, ainda em regular estado de conservação,
ficando a constituir uma das mais fortes praças para defesa da nossa fronteira
com a Espanha.
Toda a fortaleza está
em regular estado de conservação, tendo-se feito modernamente muitas obras de
restauro no castelo, por conta da Liga dos Amigos do Castelo de Marvão; e
dentro da vila existem ainda duas cisternas, uma das quais podia fornecer água
para seis meses à guarnição da fortaleza e habitantes da vila, e outra, mais
pequena, de água nativa.
Fonte:
Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, General João de Almeida