sábado, 8 de fevereiro de 2014

Bom Bia Alentejo, Nisa, Topónimo de Nisa, Mulher, a menina continua bonita


O nome desta conhecida vila alentejana aparece muitas vezes escrito erradamente, isto é, com um “z” em vez de “s”. Tal grafia não deve ser adoptada, pois na origem do vocábulo não há nada que o justifique.
NISA veio de Nissa e, quer seja o nome da referida vila do distrito de Portalegre, quer designe várias antigas cidades gregas, quer seja mitónimo, quer seja antropónimo feminino, que também pode ser, deve sempre ser escrito com “s”, única forma aceitável à luz da etimologia e por isso mesmo recomendada pela nossa ortografia oficial.
Vem a propósito dizer que também existe a forma niza, com “z”, mas esta é um nome comum, que se designa determinada peça de vestuário. Tem origem turca e não se relaciona com NISA, nome próprio. (…).
Ocorre-nos referir aqui a uma nota encontrada posteriormente e na qual se afirma que o topónimo NISA proveio da forma feminina Nisus, que por sua vez é a latinização do grego Nésos, nome de um rei de Mégara. 
Página 64 do “Cadastro da População do Reino”, de 1527, lê-se Vjla de Nisa, o que constitui mais um indício de que é errada a grafia do vocábulo com “z”.
(Dos Topónimos e Gentílicos, de Xavier Fernandes, Vol. II (1944) – Págs. 176-177 e 343).

Este nome, na origem, é como tantos outros, nome de pessoa; no nosso caso, nome de mulher, feminino de Nisus, que se lê numa inscrição de Faro, publicada no Corpus, II, 5144. Nisus é latinização do grego Nisos, que foi por acaso o nome de um rei de Mégara.
A-par-de NISA que é pressuposta forma latinizada, temos Nise numa inscrição de Beja, publicada na mesma colecção, II, 5186(=59). Não se admire o leitor alto-alentejano de lhe dar como estirpe de NISA uma grega.
Com a conquista da romana da Lusitânia vieram para cá muitos gregos, uns como profissionais, por exemplo do sacerdócio pagão, e da Medicina.
Possuo coleccionados dezenas de nomes gregos. Até se dá a notável coincidência de serem do sul, de Portugal as lápides em que figuram Nisus e Nise (=NISA), e de ser também meridional a vila de NISA.
Pois que há vários testemunhos de influência romana no concelho de NISA (lápides com inscrições, etc.), pode entender-se que houve em uma nesga do território, nisorto, ou na época romana uma villa rústica (“quinta”), ou lá na época portuguesa, ou pouco antes, um monte (em sentido alentejano), pertença, em qualquer dos casos, de uma mulher chamada NISA.
Este monte ou esta villa rústica prosperou e tornou-se a NISA moderna, ou se não foi bem assim, propagou-se o nome, por qualquer circunstância, ao referido território.
(Da Revista Lusitana, Vol. XXXV – Pág. 312, do estudo Matéria Filológica – Etimologia de NISA – por José Leite de Vasconcelos. Este artigo foi primeiramente publicado no semanário estremocense Brados do Alentejo, N.º 333 de Janeiro de 1937).