O nome desta
conhecida vila alentejana aparece muitas vezes escrito erradamente, isto é, com
um “z” em vez de “s”. Tal grafia não deve ser adoptada, pois na origem do
vocábulo não há nada que o justifique.
NISA veio de Nissa e,
quer seja o nome da referida vila do distrito de Portalegre, quer designe
várias antigas cidades gregas, quer seja mitónimo, quer seja antropónimo
feminino, que também pode ser, deve sempre ser escrito com “s”, única forma
aceitável à luz da etimologia e por isso mesmo recomendada pela nossa
ortografia oficial.
Vem a propósito dizer
que também existe a forma niza, com “z”, mas esta é um nome comum, que se
designa determinada peça de vestuário. Tem origem turca e não se relaciona com
NISA, nome próprio. (…).
Ocorre-nos referir
aqui a uma nota encontrada posteriormente e na qual se afirma que o topónimo
NISA proveio da forma feminina Nisus, que por sua vez é a latinização do grego
Nésos, nome de um rei de Mégara.
Página 64 do
“Cadastro da População do Reino”, de 1527, lê-se Vjla de Nisa, o que constitui
mais um indício de que é errada a grafia do vocábulo com “z”.
(Dos
Topónimos e Gentílicos, de Xavier Fernandes, Vol. II (1944) – Págs. 176-177 e
343).
Este nome, na origem,
é como tantos outros, nome de pessoa; no nosso caso, nome de mulher, feminino
de Nisus, que se lê numa inscrição de Faro, publicada no Corpus, II, 5144.
Nisus é latinização do grego Nisos, que foi por acaso o nome de um rei de
Mégara.
A-par-de NISA que é
pressuposta forma latinizada, temos Nise numa inscrição de Beja, publicada na
mesma colecção, II, 5186(=59). Não se admire o leitor alto-alentejano de lhe
dar como estirpe de NISA uma grega.
Com a conquista da
romana da Lusitânia vieram para cá muitos gregos, uns como profissionais, por
exemplo do sacerdócio pagão, e da Medicina.
Possuo coleccionados
dezenas de nomes gregos. Até se dá a notável coincidência de serem do sul, de
Portugal as lápides em que figuram Nisus e Nise (=NISA), e de ser também
meridional a vila de NISA.
Pois que há vários
testemunhos de influência romana no concelho de NISA (lápides com inscrições,
etc.), pode entender-se que houve em uma nesga do território, nisorto, ou na
época romana uma villa rústica (“quinta”), ou lá na época portuguesa, ou pouco
antes, um monte (em sentido alentejano), pertença, em qualquer dos casos, de
uma mulher chamada NISA.
Este monte ou esta
villa rústica prosperou e tornou-se a NISA moderna, ou se não foi bem assim,
propagou-se o nome, por qualquer circunstância, ao referido território.
(Da
Revista Lusitana, Vol. XXXV – Pág. 312, do estudo Matéria Filológica –
Etimologia de NISA – por José Leite de Vasconcelos. Este artigo foi
primeiramente publicado no semanário estremocense Brados do Alentejo, N.º 333
de Janeiro de 1937).