quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Bom Dia Alentejo, Castelo de Vide, Milagre o foi, Foi o Manto da Senhora da Alegria

 
Conta-se que uma certa noite, - mês compadres e minhas comadres - já a obra do Convento de Castelo de Vide ia muito adiantada, - sabeis - irrompe um incêndio, que devasta tudo o que já estava feito.
O povo acorre bem depressa. As labaredas levavam tudo à sua frente, e o armazém de pólvora ficava ali bem perto. A água estava longe e difícil de carregar, pois era preciso ir buscá-la à fonte da vila, à fonte do Rossio ou ainda à fontinha de Santa Ana.
Tudo parecia perdido. Então, toda a população se voltou para a Igreja da Senhora da Alegria e, numa explosão de fé, implorou à Senhora que lhe acudisse.
Como que por encanto, o incêndio extinguiu-se.
No outro dia, toda a gente se reuniu em frente da Igreja da Senhora da Alegria para rezar e agradecer tão magnânima protecção.
E todos quiseram beijar-lhe os pés, mal se atrevendo a olhar o seu rosto. De súbito, alguém que agarrava o manto de púrpura e ouro que cobre a imagem grita:
— Milagre, milagre!
Uma das pontas do manto estava queimada, porque a santa com ele havia apagado o fogo.
Fonte: Fernanda Frazão, Passinhos de Nossa Senhora - Lendário Mariano Lisboa, 2006, Apenas Livros, p.107-108

sábado, 24 de janeiro de 2015

Bom Dia Alentejo, Alegrete, Banda de Alegrete, a uma Banda de força a tocar a terra em frente

 
Anteriormente, - mes compadres e minhas comadres -, Sociedade Recreativa e Musical Alegretense, foi ditosa Sociedade fundada, lá decorria o ano longínquo de 1867. Inicialmente, foi constituída por 20 pessoas que residiam na povoação de Alegrete.
A data da constituição da Banda – vos direi assim minhas comadres e mes compadres – dia 8 de Dezembro é considerado, como sendo ele, o da data da constituição da banda, que teve como sede uma pequena sala cedida por um dos executantes e fundador da Filarmónica.
Dando-lhe o seu devido seguimento, uma melhoria significativa veio com a utilização – pois vos direi a vossemecês – da antiga capela do Espírito Santo, onde se manteve até 1981.
Foi o seu primeiro regente e fundador – o compadre – José Augusto Servo, natural – compadre – de Alegrete.
- Como em tudo na vida pois a vossemecês direi -, a banda sofreu um pequeno interregno da sua actividade, por cerca de dois anos, mantendo, a partir da daí, a sua actividade ininterruptamente. Foi a ditosa reestruturada em 1919, pelo Capitão do exército, António Miranda Branco, tendo sobrevivido até – aos lindos dias - de hoje.
 
Por uma subscrição pública – assim mes compadres e minhas comadres mesmo – compram-se os primeiros instrumentos, alguns dos quais se encontram expostos no seu pequeno museu, onde, muito bem, estão também as fotografias dos músicos que actuaram na banda durante mais de 50 anos, e ainda o de algumas pessoas que deram significativo contributo para a conservação e melhoramentos em favor da Banda.
Em algumas situações, os próprios músicos tiveram que adquirir, à sua custa, os instrumentos com que actuavam, nunca tendo podido contar com muito mais de quarenta elementos.
Dispõe agora – a Banda - de uma sede própria, excelente, com projecto do Sr. Eng.º José Rodrigues Raimundo, que muito deve ao dinamismo e esforço de algumas pessoas, como o Dr. Dinis Parente, o Sr. Fernando Trindade e muitas outras que colaboraram de várias formas, nomeadamente através da “campanha do cimento”.
Na sua sala de ensaios poderiam agora sentar-se o dobro dos elementos e tem óptimas condições acústicas, também estas, com muito carinho e inovação: foi instalado um tecto falso para criar uma superfície anti-reflexos (sem ecos) utilizando os cartões prensados de caixas para ovos, Barato e eficiente!
Uma nota curiosa – pois assim vos direi a vossemecês – para a campanha do cimento foram mandadas cartas a quase toda a gente pedindo colaboração. Não tendo sido enviadas cartas a algumas pessoas de baixos recursos, houve uma que muito se escandalizou – pois também é gente – por lhe não “terem pedido” e foi falar com o responsável dizendo-lhe; então tu achas-me com coragem de negar um saquinho de cimento para ajudar a nossa Banda? E deu dinheiro para cinco sacos!.

 
Foto: Emílio Moitas, http://arronchesemnoticias.blogspot.pt/2012/12/alegrete-banda-de-musica-da-sociedade.html
Este exemplo, entre muitos outros (não esquecendo aqueles que trabalharam gratuitamente, dias sem conta para ajudar a erguer esta obra) atesta o carinho – assim mes compadres e minhas comadres – que o povo de Alegrete dispensa a – esta - sua Banda.
Como cartão de visita da Vila de Alegrete, projectando-a para bem mais longe do que os limites, quer através do país quer para o estrangeiro, participando em tantas actuações em se ouvir com bom nível e sempre com muito grado.
Para além disso, foi ponto de partida, através do ensino da música, com os meios de que dispunha (até que em 1996 arrancou com a Escola de Música dirigida por um professor do Ensino Oficial) para que muitos pudessem optar por outro modo de vida actuando nas diversas bandas militares, GNR, G. Fiscal, PSP, da Gulbenkian, da Carris, etc., ou exercendo a sua actividade como professores de música, instrumental ou coral, em várias Escolas, onde muitos mostraram valor e ganharam prestígio.
Fonte: Alegrete : histórico, urbano e rural – João Manuel Marques Parente – 2003 – Edições Colibri.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Bom Dia Alentejo, Castelo de Vide, necrópole de Santo Amarinho, para a pradaria terra alentejana fazia


Do Periodo Medieval Cristão – mes compadres e minhas comadres – um conjunto de 16 sepulturas escavadas no solo, de forma trapezoidal cobertas com lajes de granito, orientadas a Nascente-Poente, na sua maioria sem espólio.
Para além destas sepulturas, atribuíveis ao período medieval, este local teria sido utilizado (também como necrópole) em período anteriores, nomeadamente romano. A confirmá-lo, identificou-se uma inscrição funerária datável do século I.

Foto e Fonte: Emílio Moitas, http://www.panoramio.com/photo/1253297
- É mes compadres e minhas comadres - esta necrópole de Santo Amarinho (Alta Idade Média - séc. VI-VII), constituída por quinze sepulturas de adultos e uma criança, e encontra-se em razoável estado de conservação e é, até ao momento, um dos maiores cemitérios do género encontrados no concelho.
As sepulturas são de inumação individual, são rectangulares e trapezóides e foram constituídas obedecendo à orientação nascente-Poente (pés-cabeça).
Escavada em 1974 por Maria da Conceição M. Rodrigues, foram exumados diversos recipientes cerâmicos que, no momento do enterramento, eram habitualmente depositados à cabeceira da sepultura". 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Bom Dia Alentejo, Crato, Ponte do Chocanal, a uma capital em terra da medieval


Ponte do Chocanal – que mes compadres e minhas comadres - situa-se ela sobre a ribeira do mesmo nome, aqui, tão perto e junto, da graciosa vila a que um dia, uma grande Mãe a terra e as terras, a da ditosa vila do Crato. Venham daí malta. Venham a este Alentejo, a lo descobrir…

É – a ponte ditada mes compadres e que minhas comadres - constituída por três vãos e dois talha-mares e - pois vos direi a vossemecês - com arcos de volta inteira, que, embora parcialmente obstruídos pelo assoreamento do leito da ribeira, - eles - mantêm a dignidade e equilíbrio desta estrutura, perfeitamente ela tão enquadrada na paisagem envolvente.
Vulgarmente – pois o sabeis estas pontes - designada como “ponte Romana”, esta sólida construção em alvenaria de granito, ela data provavelmente do período medieval, embora as aduelas dos arcos, ligeiramente almofadadas, possam indiciar uma eventual origem romana ou – assim para terminar - uma reutilização de materiais anteriores.
Fonte: http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/itinerarios/pontes-alentejo/

domingo, 18 de janeiro de 2015

Bom Dia Alentejo, Castelo de vide, Fonte de S. Tiago, a terra do verde da água da vida


Desconhece-se a data de construção desta fonte, provavelmente seria aqui colocada aquando da edificação da igreja de S. Tiago (séc. XVI).
A fonte de S. Tiago fica situada ao fundo da Carreira de Santiago, incrustada na parede este da citada igreja.
 
Fonte e Foto: http://www.castvide.pt/photos/fontes_santiagomaior.html
Esta fonte é composta por uma estrutura de alvenaria de pedra, rebocada e caiada de branco e creme, ladeada por duas colunas do mesmo material.
Ao centro deste conjunto, contem uma moldura de pedra de granito, de onde saem duas bicas metálicas, jorrando água para um pequeno tanque de forma geométrica irregular também em granito, dentro do qual existem dois suportes em pedra que servem de base para a colocação de bilhas ou utensílios para encher do precioso líquido.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Bom Dia Alentejo, Mourão, Topónimo de Mourão, a terra da Cova da Moura

 
Foi esta povoação fundada pelos árabes no século XI, os quais lhe construíram as primeiras fortificações, e lhe deram o nome de Mogron, que significa – lapa, cova ou caverna – talvez por causa de alguma que ali encontrassem, do tempo dos celtas ou dos antigos lusitanos.
Parece que esteve abandonada e deserta, durante os reinados de D. Afonso Henriques, D. Sancho I e D. Afonso II, porque só temos notícias positivas de MOURÃO, corrupção de Mogron, no reinado de D. Sancho II, em que D. Gonçalo Egas, prior da Ordem Militar de S. João de Jerusalém, depois de Malta, a povoou em 1226, dando-lhe foral, que foi confirmado e muito ampliado por D. Dinis, por carta feita em Lisboa, a 17 de Janeiro de 1296.
(Do Arquivo Histórico de Portugal – Vol. II – 1890 – Pág. 194).
Da sua fundação nenhumas notícias históricas se possuem, devendo-se relegar para o campo da imaginação o pouco que a tal respeito se encontre num ou noutro escritor.
O que acerca da origem árabe do seu nome almogron, tremoceiro e morron, lapa ou caverna, se tem dito não passa de gramática parda pois a tal respeito consultei o meu erudito e destinto amigo e colega Dr. David Lopes, eminente professor de árabe.
O termo MOURÃO provém de Moura de cujo alfoz teria feito parte em remotos tempos.
(Do Concelho de Mourão – por Dr. Agostinho Fortes – inserto no Álbum Alentejano – Tomo II (Distrito de Évora) – 1935 – Pág. 422).

domingo, 11 de janeiro de 2015

Bom Dia Alentejo, Flor da Rosa, Igreja Paroquial de Flor da Rosa, uma graça que ficou na do Contestável

  
Foto: http://www.panoramio.com/photo_explorer#view=photo&position=52096&with_photo_id=37387700&order=date_desc&user=68287
A Igreja Paroquial, - mes compadres e minhas comadres, vos direi, - é um edifício moderno e construído no centro da povoação, desta minha linda Flor da Rosa.
Sem outro motivo de interesse que continuando mes compadres, além daquele de ali estar o túmulo de Frei Álvaro Gonçalves Pereira, fundador do Convento da Flor da Rosa e que se está vendo ao fundo pois vos direi, e que foi para esta igreja transferido em 1897, e de também guardar a célebre imagem de Nossa Senhora das Neves, hoje mais conhecida por Nossa Senhora da Flor, ou da Rosa, que pertenceu ao mesmo convento.
Esta imagem, de pedra policromada, tem todas as características de uma obra de origem ou de inspiração francesa da primeira metade do século XIV.

Foto: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d7/Igreja_matriz_de_Flor_de_Rosa_-_Crato.jpg
Segundo a tradição aceitável – assim mes compadres e minhas comadres - e à qual se referem Frei Agostinho de Santa Maria e outros muitos nossos cronistas antigos, a imagem data do tempo do sexto Prior do Crato, D. Álvaro Gonçalves Pereira.
A Virgem, em posição levemente arqueada, ela está revestida de delicadas roupagens, segura e sustenta com o braço esquerdo o Menino, o qual, com a mão direita afaga a face esquerda da Virgem e tão assim muito maternal – que mês compadres e que minhas comadres.
O Menino, ele está assim meio nu e envolto em parte do manto da Senhora, que o cinge e cai no corpo em pregas graciosas.
A mão direita da imagem, ela parece sustentar uma parte do manto ou ter tido outrora diferente aplicação, como talvez a de sustentar uma flor.
O véu está preso por um pequeno diadema.
A policromia da imagem, que é ainda discreta, tem sido sem dúvida refeita por várias vezes. Mede 1m,20 de altura.
Fonte: Fonte: Inventário Artístico de Portugal, Luís Keil, 1943

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Bom Dia Alentejo, S. Sebastião de Giesteira, Apodo de S. Sebastião de Giesteira, no extremo do Arco-da-Velha lhe está o tesouro

 
A freguesia de S. Sebastião de Giesteira pertence ao concelho de Évora.
Apodo colectivo e dito tópico: P`lacos, São do arco-da-velha.
Os seus rivais, os vizinhos da Boa Fé, chamam aos giesteirenses P`lacos (por Polacos), dado os de S. Sebastião da Giesteira lhes chamarem Trucos (Trucos, por metátese de Turcos) – e lhe estarás assim entendendo, mes compadres e minhas comadres -. Trucos e P´lacos –seriam assim pois sabeis – como que habitantes de “terras do fim do mundo”…
Todavia, - compadres e minhas comadres – os habitantes do Escoural chamam aos habitantes da Giesteira Placos por uma razão diversa (seriam indivíduos que deslocaram a placa de sinalização), e isso teria a ver com a deslocação de uma placa indicadora do limite entre as duas freguesias, que pertencem a concelhos diferentes (S. Sebastião pertence a Évora e o Escoural pertence a Montemor-o-Novo – e o compreendereis assim mes compadres e que minhas comadres.
Foto: Almanaque Místico, http://almanaquemistico.blogspot.pt/2013/02/a-lenda-do-arco-iris.html
Quanto à zombaria São do arco-da-velha, M. P., um doente nosso, de 72 anos (25/05/1996) diz-nos que o arco-da-velha é ali utilizado para designar o arco-íris. Popularmente – pois o compadre o diz -, afirma-se que no extremo do arco-íris está guardado um tesouro. Assim, - que compadre lá termina pois sabeis – quando o arco-íris aparece, os de São Sebastião da Giesteira andam desnorteados, à procura do extremo do arco-da-velha…
Ai ai e que ai, é lindo não é, que mes compadres e minhas comadres? E eu, que pois para terminar no cante da vadia alentejana, eu que vos digo, é puro Alentejo de um ar muita puro.
Fonte: J. A. David de Morais, Ditos e Apodos Colectivos, Estudo de Antropologia Social no Distrito de Évora.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Bom Dia Alentejo, terras de Alter do Chão, Fonte no Olímpio Barreto Murta, a igreja de Sant`Ana a dizer que o céu é o limite

 
Fonte no Largo Doutor Olímpio Barreto Murta em Alter do Chão.
Fonte neobarroca e revivalista. Tem pináculo gigante ao centro e quatro peixes, apresentando elementos decorativos de estilo barroco.
Via, Maria Lourdes Ribeiro.
E construída no século XIX- mês compadres e que minhas comadres -, uma fonte neo-barroca se vos dirá.
Ela que possui pois assim um tanque octogonal, e que ao centro - compadres e minhas comadres - do tanque, um pináculo gigante com quatro peixes, a encimar as bicas que malta minha.
E no mesmo largo se dirá a vossemecês, encontra-se a igreja de Sant’Ana. Séc. XVII, assim ela datando. Possui assim painéis de azulejos de muito boa qualidade, a representar cenas da vida da Virgem. De muito boa qualidade pois que se dirá a vossemecês, sofreu ela poucas alterações e mantém as características da sua época de construção.
Fonte e Foto: www.geocaching.com/seek/cache_details.aspx?wp=GC17TVQ

sábado, 3 de janeiro de 2015

Bom Dia Alentejo, Indumentária Alentejana, Alentejo, a uma segunda pele da alma que gente

 
O modo de vestir das populações rurais do Alentejo – deste meu Alentejo e vosso - foi uma das características mais curiosas, mais típicas do povo alentejano. O traje tornava inconfundível o homem do campo, em qualquer aglomerado de gente, por maior que fôsse-feira ou romaria.
Resistindo à influência da moda, cujo despotismo, sobretudo nos tempos correntes, todos nós conhecemos, o vestuário do camponês alentejano manteve-se inalterável, na sua essência pelo menos, durante largos anos, dando a impressão de que permaneceria sempre invulnerável à acção caprichosa da moda, e à influência dos usos e costumes de outros povos.
O vestuário do alentejano – era assim mes compadres e que minhas comadres, assim – uma espécie de cartão de identidade, uma certidão de proveniência, um documento que identificava o respectivo portador sob o ponto de vista provincial, em qualquer parte que aparecesse.
O cosmopolitismo da vida moderna, devido à facilidade e rapidez de comunicação, determinou o estreitamento e frequência de relações entre as populações mesmo afastadas, resultando deste facto a penetração de costumes alheios e a consequente alteração dos próprios.
Esta terá sido, a nosso ver, uma das razões por que o nosso Alentejo tem perdido um pouco o seu característico individualismo sob o ponto de vista da indumentária. (…)

Falemos primeiro do vestuário de trabalho.
Os rurais alentejanos, ainda no 3.º quartel do séc. XIX usavam calção de briche ou de tripe, polainas de saragoça, altas, chegando quási ao joelho, abotoadas do lado de fora com botões numerosos, de pouco valor. Vestiam camisa branca, feita de pano de fabrico caseiro, tendo o peitilho mais ou menos rendilhado, os ombros com sua bordadura e às preguinhas.
O colarinho era alto – assim minhas comadres e que mes compades –, com duas ou quatro casas, onde entravam os botões, ordinariamente de prata o que não é para admirar, visto que ainda então a indústria e venda de jóias de pechisbeque se não tinha desenvolvido. Os botões dos punhos eram igualmente de prata, com corrente.
Por cima da camisa usavam o colete de tecido escuro (surrebeca em geral) e a clássica jaqueta, chamada também véstia.
O chapéu – aquele enorme chapéu alentejano – era o principal distintivo do camponês do Alentejo.
Grande – assim compadres e que minhas comadres – com suas abas enormes recurvadas, preto, redondo, colossal, o chapéu tinha ainda como acessório uma grande borla fixa, o portador colocava ao lado esquerdo, quando fazia uso dele, e da qual muito se ufanava.

No tempo invernoso usavam, como hoje ainda, para se defenderem do frio e da chuva, os safões, o pelico, espécie de colete de pele com todo o pêlo, sem botões nem mangas e de enfiar pela cabeça; e finalmente uma outra pele presa à cintura por correias e destinada a proteger as nádegas.
Por cima de tudo usavam um capote – assim pois estou dizendo a vossemecês – ainda hoje bastante frequente, com mangas curtas e apenas um cabeção. Os ganadeiros – pois assim minha gente -, especialmente os guardas de gado lanígero, mais expostos às inclemências do tempo, traziam, como agora ainda em alguns pontos, samarra de pele de ovelha com o pêlo conservado.
Um dos acessórios do vestuário era a cinta, larga e comprida faixa de algodão, terminando em franjas nas duas extremidades, que se enrolavam amplamente em volta da cintura, prendendo a extremidade livre de modo que a franja pendesse ao lado.
O traje de festa, à parte o calção, as polainas e o chapéu, sofreu mais profunda transformação do que o do trabalho, pois o de hoje pouco tem do que do outro tempo.

Constava este de camisa branca engomada com peitilho vistoso, de renda; colete rameado ou liso, jaqueta com alamares de prata – 3 pares em geral - ; calção de tripe duma bela cor azul, muito vistoso, com duas abotoaduras constituídas por grande número de moedas de prata que iam do joelho à cinta, fivelas de prata na parte inferior do calção; polainas escuras, de briche, abotoadas, com moedas de prata, em toda a altura, excepto na parte superior em que ficavam propositadamente desabotoadas para se poderem entrever as meias brancas; ligas vermelhas segurando as polainas, com cordões de outra cor pendendo à frente.
Entre a cinta, que era de merino, (ou cor de vinho ou encarnada) e o colete, era entalado à frente um lenço, ordinariamente de seda, vistoso e flamante.
Os botões do colarinho e dos punhos eram de oiro – como estais lendo mes compadres e que minhas comadres, de oiro – como competia ao traje de gala.
Como cúpula desta vistosa indumentária, via-se o clássico chapéu redondo que pouco diferia do descrito.
Em certas solenidades era indispensável o uso da capa, vistosa peça de particular apreço. Era de pano azul escuro, farta, rodada e bastante comprida. Na gola, tinha alamares de prata. Algumas eram forradas, pelo menos nas orlas da frente. Também se usavam capas de briche escuro.
Seria curioso acompanhar a lenta evolução da indumentária masculina, desde as calças de alçapão, imediatas sucessoras dos calções, até aos nossos dias: mas vai longo este, por isso ficamos por aqui.
E foi assim mes compadres e que minhas comadres, e que foi assim pois que vos o digo, Manuel Subtil, Indumentária rural do Alentejo, Revista Casa do Alentejo, 194(?).