Conta o grande etnógrafo José
Leite de Vasconcelos no vol. VIII da sua ETNOGRAFIA PORTUGUESA:
"Estive em Gáfete, em 25 de
Abril de 1922, e assisti. De Gáfete, saiu uma procissão do adro da igreja para
a tal capela, a um quilómetro. Vai a Irmandade de S. Marcos e ainda três
padres, que vão cantar a missa na capela, e o sacristão, mas neste ano, não
foram os irmãos. Ao pé da capela, num curral, estava o boi, que é, como disse,
um bezerro.
Os irmãos foram, de opa branca, buscá-lo, e com uma varinha para o tocar, e puseram-no debaixo do alpendre ou galilé. Aí um padre benzeu-o e o boi entrou. Depois, ao pé do altar, era costume o padre dar na cabeça do animal com uma cruz de pau. Seguiu-se missa cantada e sermão. Logo que o boi sai da igreja, e lhe dão comida, leiloam-no e o produto, com as esmolas, é para a festa".
Os irmãos foram, de opa branca, buscá-lo, e com uma varinha para o tocar, e puseram-no debaixo do alpendre ou galilé. Aí um padre benzeu-o e o boi entrou. Depois, ao pé do altar, era costume o padre dar na cabeça do animal com uma cruz de pau. Seguiu-se missa cantada e sermão. Logo que o boi sai da igreja, e lhe dão comida, leiloam-no e o produto, com as esmolas, é para a festa".
Mas em 1924, já alvorecia o 28 de
Maio de 1926, o bispo de Portalegre, D. Domingos Maria Frutuoso, decidiu
proibir tais práticas nas igrejas da sua diocese...
E é pois compadres e minhas comadres, o próprio Boletim da Diocese de
Portalegre que reconhece que o bispo " foi obedecido em todas as
freguesias exceptuando apenas a de GÁFETE, em que uma parte do povo se
amotinou, vociferando na capela do santo injúrias contra o pároco por se opôr a
que se levásse a efeito o que superiormente estava proibido. Disseram mesmo que
o Bispo nada tinha com aqueles costumes e que O POVO É QUE MANDAVA.
E o bispo retaliou:
Em ofício ao padre de Gáfete, proíbe-o de" exercer qualquer acto de culto dentro dos limites da dita freguesia, a não ser a administração dos últimos sacramentos aos moribundos e a assistência aos funerais, devendo os fiéis, para tudo o mais, recorrer à freguesia de Tolosa.
Outrossim proibe que qualquer Sacerdote celebre missa dentro dos limites da freguesia de Gáfete, quer de semana quer aos domingos, sem licença Sua, concedida por escrito".
Em ofício ao padre de Gáfete, proíbe-o de" exercer qualquer acto de culto dentro dos limites da dita freguesia, a não ser a administração dos últimos sacramentos aos moribundos e a assistência aos funerais, devendo os fiéis, para tudo o mais, recorrer à freguesia de Tolosa.
Outrossim proibe que qualquer Sacerdote celebre missa dentro dos limites da freguesia de Gáfete, quer de semana quer aos domingos, sem licença Sua, concedida por escrito".
Mas passado pouco tempo,
"uma representação de pessoas gradas da freguesia, dando as satisfações
devidas" dirigiu-se às autoridades competentes " pelo que foi
levantada a proibição e restabelecido o culto"
“ A Festa de S. Marcos e a
religiosidade Popular" de Rui Arimateia, revista IBN MARUÁN, nº 2-1992