De informação Particular, de 6 de Janeiro de 1977, oferecida por António
Augusto Batalha Gouveia:
"Dos inúmeros topónimos portugueses cuja origem lexial remota a um
passado linguístico pré-indo-europeu, TOLOSA é um deles como se irá ter ocasião
de verificar.
Tem-se dito que esta graciosa vila do Alto Alentejo foi fundada por
elementos do mesmo clã que no sudoeste francês e na vizinha Espanha fundaram
outras "Tolosas".
Quer isto dizer que o estudo relativo à origem do topónimo Tolosa servirão
simultâneamente aos três países.
Acerca da Tolosa francesa (Toulouse), o Grande Larouse refere que o nome da
importante cidade do Alto-Garona teria origem no apelido do rei mítico Tolus,
descendente de Jafeth, um dos filhos do Noé bíblico. Por esta lenda, que alguma
verdade encerra, se pode aquilatar da extrema antiguidade do topónimo Tolosa.
O interesse da lenda reside na circunstância de os escribas bíblicos
considerarem Jafeth como o ancestral dos povos não semíticos nem camíticos, o
que o coloca como o Pai dos povos indo-europeus e asiânicos.
Estes asiânicos também conhecidos pelos nomes de turânicos ou simplesmente
túrias, cujo "ubi", original havia sido o planalto do Turam,
habitavam a Ásia Central e Setentrional, tendo-se dividido em três grupos a
saber: os Sumérios, que ocupam o sul do Iraque: os Hurritas, que se
estabeleceram entre a Síria e o Iraque, e finalmente, os Pro-Hititas que se
espalharam pela Anatólia.
Entre os quatro e terceiros milénios da nossa era, operou-se uma migração
maciça dos povos turânicos, os quais irradiaram para o Ocidente em várias
direcções, tendo atingido a Itália, a Gália e a Ibéria.
Na Itália fundaram o reino da Atúria, nome que os romanos corromperam em
Etrúria, designando o mar que lhes ficava fronteiro de Turano, fonetizando
Tyrreno pelos habitantes do Lácio.
Os turanos ou túrias, tinham como tótem tribal o touro (da raiz Tur), o
qual era associado aos astros que comandavam as forças vitais da natureza,
principalmente aquelas relacionadas com as perturbações atmosféricas.
O nome português tirano tem origem no gentílico turano, envolvendo aquele o
conhecido conceito de "soberano absoluto" ou "despótico".
Entre os etruscos, conhecidos pelos gregos sob o nome de Tyrrenos,
pontificava uma deusa do mar chamada Turam, a qual tinha a beleza fascinante da
Afrodite grega e da Vénus romana.
Na faixa ocidental ibéria, os historiadores antigos registam a presença de
clãs turânicos, tal como se reconhece nos gentílicos Turdetanos, Turoldis,
Turones, Túrdulos, etc., povos que habitavam principalmente a área compreendida
entre o Rio Mondego e o Litoral Algarvio.
O topónimo pré-cristão de Portalegre era Turóbriga, a qual a Turóbriga foi
tempos pré-romanos sede de uma área cultural dedicada a uma divindade Atalgina
Turobrigensis Dea.
O fonetismo incipiente das falas pré-indo-europeias, deu lugar a que o
timbre da vogal imediana nas bases triliterais sofresse variações, o que fez
com que a voz Tur também revestisse a prosódia Tar, a qual, por sua vez
desenvolveu os heterófones Thar, Dar, e Der.
Os antigos Persas e os Babilónios, além de decorarem os painéis de tijolos
envernizados das portas das cidades, com frisos de touros alados, postavam
ainda dos seus lados esculturas de touros antropocéfalos, com a missão
religiosa de guardarem e protegerem os citadinos.
Esta circunstância provocou na esfera semântica a conotação dos conceitos
"Touro" e "porta" e daí o antigo alto-alemão Turi (actual
Tor), o germânico dur, o antigo inglês duru (hoje door) e o grego Thura, todos
com o sentido de "porta". Por seu turno o antigo Persa dispunha da
variante Thar (actual Dar) para dominar a "porta".
A voz asiânica supracitada Turu "Touro" ou "porta" além
do referido termo helénico Thura "porta" desenvolveu ainda a variante
dialectual grega puros, donde o topónimo homérico Pylos designativo de Porta. A
histórica cidade real persa Astar, também grafada Assar, foi pelos gregos
apelidada de "Cem Portas" - Hekatompylos.
A dicção Tur ou Turu, por variação do ponto de articulação da variante r,
evolui para Tul, Tulu, Tol, Tolu, etc., fenómeno este comum ao acima citado
Puros helénico (Pylos).
Aquando da restauração da Porta de Isthar (corrupção caldaica da voz Astar,
literalmente "Deus da Porta" ou "Planeta de vénus") na
cidade da Babilónia, ordenada po Nabukhodonosor, este mandou gravar em placas
de barro cozido os seguintes dizeres "... revesti a porta com tijolos
esmaltados de azul, sobre os quais estavam representados touros selvagens e
dragões. Mandei colocar sobre a Porta vigas de cedro revestidas de cobre, com
seus suportes de bronze. Altivos touros de bronze e dragões furiosos foram postados
à entrada. Embelezei esta porta a fim de provocar a admiração de todos os
povos". (Babylone, colecção "Que Sais-je?)
Esta "vaidade" de Nabukhodonosar haveria de se transmitir à
posteriedade na expressão portuguesa Tolo (de Tolu "porta"), o que
aliás é corroborado pelo alemão Tor (Tolo e porta). Desta forma se encontra investigado o primeiro termo constituido do
topónimo Tolosa, isto é Tol ou Tolu; irei seguidamente examinar o segundo, ou
seja osa.
Quando estudei o topónimo Nisa, aludi ao tema Usa ou Uza como sendo um dos
nomes pelo qual era conhecido o planeta Vénus. O Assírio dispunha igualmente da palavra Usa para denominar aquele planeta,
já então considerado como o símbolo astral do amor, tendo o mesmo nome passado
ao árabe com igual significado.
Donde priviria o termo assírico Usa? Os asiânicos, designadamente os
Sumérios chamavam ao Sol o deus Utu. A páreda deste, Uta foi o protótipo do
latim Uita "vida". Uta desenvolveu ainda os alófonos Utha, Utsa e
finalmente Uza: O nome que os babilónios davam ao seu Noé diluviano era o de
Uta - Napyshtym o qual se pode traduzir por "Vida das águas do
Senhor".
A propósito do latim Uita oiçamos o que a seu respeito diz o eminente
latinista A. Meillet:
"Acerca do latim uita "vida", não tenho a certeza se ele
deriva de uinus, "vivo" ou se, por outro lado, não repousará sobre um
antigo "gwita" prototipo do grego biotos, encurtado na forma
"bios" "vida".
Eis, pois, chegado ao fim deste estudo.
O toponómio Tolosa traduz, como se acaba de ver, o mesmo conceito religioso
que os babilónios davam, à maravilhosa PORTA DE ISHTAR, isto é, PORTA DE VÈNUS,
PORTA DO AMOR, ou PORTA DA VIDA.
Não admira, pois, que os Tolosanos ou Tolosenses hajam consagrado a sua
vetusta terra a Nossa Senhora da Encarnação, a qual através do amor vai
servindo os desígnios de Deus."
Fonte:
Alexandre Carvalho da Costa, Nisa, Suas Freguesias Rurais