ALTER DO CHÃO – Como esta
vila vai comemorar os 750 anos, do primeiro foral que lhe foi concedido, a
revista “A Cidade” achou por bem associar-se às comemorações, consagrando-lhe
este número. Aqui deixo também o meu modesto contributo, escrevendo umas palavras
concernentes ao apodo aplicado aos alterenses, que talvez para alguns seja
desconhecido. Eu aqui, apenas, limito-me a recordá-lo e nada mais.
- MULATOS – Aplicam este apodo aos
alterenses, acrescentando de Alter.
- Da pequenina e
interessante e interessante monografia – Alter
do Chão (Uma das vilas mais interessantes do Alentejo) – conferência na
Casa do Alentejo, em Lisboa, em 18 de Novembro de 1940, proferida pelo Dr.
Rafael Salinas Calado, e publicada em 1944, transcrevo o seguinte, da pág. 18:
“Não consegui
averiguar a origem pejorativa e sem razão de ser a designação de MULATOS DE ALTER, aos homens da minha
terra.
Gama Lobo, aí também
por 1860, publicou em A Voz do Alentejo
um artigo que explicava a razão do apodo, mas a citação usada do jornal, na Biblioteca Transtagana, e a morte do seu
compilador, o trabalhador incansável António José Torres de Carvalho,
impediram-me de obter os esclarecimentos de que precisava a este respeito.
MULATOS é
coisa que lá não existe, agora trigueiros e às vezes bem carregados, como eu, há-os por lá e muitos, sem que essa
circunstância constitua, talvez, aleijão, como poderão ver, por esta quadra de
dança das saias, que as raparigas do
meu tempo cantavam lá então:
Andas morta por saber
Quem é o meu
ramalhete
É um rapaz Trigueirinho
Vestido de azul
ferrete.
Isto sempre é uma
consolação para as pessoas a quem Deus Nosso Senhor deitou a este mundo um
poucochinho mais carregado de cor.
Da pág. 17 da aludida
conferência transcrevo o seguinte respeitante ao modo de dizer, muito usual em
Alter do Chão:
“À unha, Gente de Alter! – Um dos seus divertimentos é a tourada,
onde se atira para a cabeça dos bois sem medo e com denodo. Quantas vezes, ouvi
o grito: “À unha, gente de Alter!”.
Ao investigar
diversos números de A Voz do Alentejo
existentes na Biblioteca Municipal de Elvas, encontrei a razão do apodo “MULATOS” aplicado aos habitantes de Alter do Chão, no artigo intitulado – Motivo por que chamam aos alterenses, “Mulatos
de Alter do Chão”, da autoria de Manuel de Gama Lobo, inserto nas págs. 3 e
4 do n.º 30, de 11 de Julho de 1860, que passo a transcrever, usando a
ortografia de hoje:
“Decorrido o mês de
Agosto da era cristã do ano de 1382, EL-REI D. Pedro, o Justiceiro, andava em
correição pelas terras dos seus reinos; chegou à viçosa e encantadora vila de
Alter do Chão. Alojaram-no numas casas, cujas janelas ficavam defronte de uma
perene fonte. Deu um banquete aos fidalgos da sua comitiva, como tinha por
costume, e depois despediu-os: Era noite. D. Pedro puxa um escabelo para junto
de uma janela, assenta-se nele, firma um dos cotovelos no parapeito e encosta a
face na mão e assim fica pensativo a meditar por muito tempo.
Foto: Paulo Moreira, http://retratosdeportugal.blogspot.pt/2011/04/alter-do-chao-largo-dr-joao-pestana-e.html
Tira-o deste letargo
uma mui algazarra. Eram mulheres que se chamavam reciprocamente os nomes das
festas.
O primeiro intento
foi ir à fonte e tirar do cinto o açoute com que tinha açoutado o bispo do
Porto, e ir açoutar por sua própria mão todo aquele mulherio infame, mas
manteve-se; continuou a algazarra; e a coisa tomava incremento e já quase ia a
passar a vias de facto quando uma diz para a outra – “Anda, velhaca: tu sempre hás-de ser Maria Rousada
Nesse tempo, o nome
de rousada não era lá das melhores coisas por ser pouco honroso. D. Pedro, que
isto ouviu, em continente, mandou chamar a mulher e pergunta-lhe por que lhe
chamam tal nome. A mulher cora de vergonha, acanha-se, mas finalmente confessa
que passando por umas vinhas, seu marido abusava da sua fraqueza e a forçara;
mas que depois tinha casado com ela e viviam muito satisfeitos.
Não importa, diz o
rei, cheio de cólera – foi um crime atroz! Seja já e já enforcado, pois
desonrou uma donzela indefesa! A mulher pede, roga, suplica de mãos postas e
acaba desmaiando. O marido foi imediatamente enforcado!...
- “Hei-de ensinar
este povo desmoralizador e devasso! Eu o mandarei castigar” – dizia o rei,
cheio de cólera, batendo com o punho no dofete.
Em seguida, mandou
para Alter do Chão, imensidade de
pretos, cada um com seu açoute, autorizados para zurzir todo aquele que
escorregasse um pé. Os pretos familiarizaram-se com a gente da terra. Algumas
mulheres da plebe, de boa boca e melhor aceitar casaram com eles, tiveram
filhos, MULATOS.
Os habitantes das
terras circunvizinhas, quando iam, por qualquer motivo a Alter do Chão, vendo alguns Mulatinhos,
principiaram a chamar aos alterenses, MULATOS
DE ALTER DO CHÃO, alcunha que hoje ainda têm os alterenses.
Fonte: Alexandre de
Carvalho Costa, Apodos Tópicos Alentejanos, Revista Cidade, Portalegre