Defrontavam-se nas duas margens do Tejo — reza a tradição — dois castelos, ali postos para domínio e guarda de terras, cujos senhores militavam em campos adversos: um, defensor do Evangelho; o outro, sectário do Corão. Visigodos e mouros digladiavam-se então em pugnas ferocíssimas, alongando-se por contínuas algaras e fossados e deixando à guarda dos seus castelos inacessíveis a fragilidade das mulheres e a inocência das crianças.
Ora sucedeu que D. Urraca — esposa de certo fidalgo cristão — enquanto este acutilava agarenos, se esqueceu, no seu castelo das Portas de Ródão, do que devia à honra de quem tão denodadamente combatia. E, perdidamente, tresloucadamente, precipitou-se nos braços de um nobre da mais alta linhagem mourisca, que trocara os rigores da guerra pelas blandícias da infiel. E diz a lenda que o buraco da Faiopa era o extremo da passagem subterrânea utilizada pela dama cristã, quando saía do castelo para, de barco, ir em demanda do mouro que a perdera.
Viveram longo tempo em descuidosa e absorvente paixão. Mas, certo dia, o marido atraiçoado aparece inesperadamente e, em vez das dúlcidas alegrias do lar, a que lhe davam direito seus feitos de estrénuo batalhador, esperam-no a infâmia e a desonra. A adúltera sofreu então o justo castigo da infidelidade: Foi no mesmo pego — sobre cujas águas ela diariamente passava a caminho do castelo fronteiro — que o marido ultrajado a precipitou, depois de lhe atar ao pescoço pesada pedra de moinho.
E nos torvelinhos do pego de D. Urraca — nome por que ainda hoje é conhecido — lá se afundou para sempre a desvairada.
A sua alma por ali anda penando, entre as fragas e ruídos do cachão, em lamentos de dor e gritos de desespero, que se perdem na solidão daquelas quebradas e penedias.
Fonte: José Francisco Figueiredo, Monografia de Nisa,
Câmara Municipal de Nisa, 1989 , p. 287-288
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Bom Dia Alentejo!