domingo, 20 de abril de 2014

Bom Dia Alentejo, Aldeia da Mata, a lenda da Laje do Ouro, uma terra que é bocado do Crato

Tem sido esta pedra motivo de muitas conversas desde os nossos antepassados. E quanto não se tem fantasiado, só pela simples razão de estar facetada numa parte, e com um arabesco em relevo que não tem parecença com coisa alguma. Mas dizem tratar-se dum ferrolho: seja ferrolho ou não há que respeitar o passado. (…).
Como é do conhecimento de todos, o progresso entre nós estendeu-se às entradas e caminhos. Lembro que a propriedade onde está o penedo da lenda, confronta ao Norte com o caminho da Laje do Ouro, como é conhecido entre nós, e o dito penedo entra no caminho.
Conhecido na Aldeia da Mata pela Laje de Ouro, é um enorme penedo de granito de forma arredondada, com cerca de 80 metros de diâmetro, e com a altura de metro e meio, na sua parte mais alta. A pedra como já foquei, é arredondada. Tem uma parte plana, rente ao chão, onde está, como que cinzelada à mão uma forma em relevo, a que chamam ferrolho. A parte mais alta do ferrolho, parece que está inserida nos lados de um quadrado, onde podemos ver da mesma maneira (como cinzelada), uma ferradura.
Na voz do povo, este ferrolho fecha um grande e maravilhoso tesouro de pedras preciosas e ouro.
Todo este tesouro pertencia a uma moura, a mais linda do seu tempo na sua localidade. Não obstante, sofreu um grande desgosto de amor, que a levou aos caminhos da vingança e do encantamento. Havia um homem por quem estava verdadeiramente aa paixonada, e pensava ser correspondida, o que não era verdade. Ele apenas estava interessado no tesouro e não na sua dona. Só que o não dava a conhecer, para um dia, não distante, se poder apoderar do magnífico dom que era uma enorme riqueza que a donzela possuía.
Após uns tempos de ilusão, e não sabendo como, alguém levou aos ouvidos da donzela a tão cruel verdade. Então ela foi esconder o seu tesouro, precisamente no sítio ainda hoje se encontra a referida pedra, deixando todavia, um encantamento: - Só homens corajosos te conseguirão levar. Quem te quiser possuir terá de vir só e de noite. Não necessitará de lanterna, porque o teu brilho dará tanta luz, como o sol, e tornará as trevas em dia.
Entretanto, algo iria mudar os acontecimentos. O apaixonado pelo tesouro, ao inteirar-se do que tinha acontecido, montou-se no seu cavalo e foi em sua perseguição, o mais rápido que foi possível.
Na obstante, só a conseguiu alcançar quando ela já estava a escavar para enterrar o tesouro. O cavalo corria tanto que ele não o conseguiu parar. Este atingiu a moura na testa, prostrando-a por terra onde ficou moribunda.
 


Ao sentir as agonias da morte, ela transformou-se num grande bloco rochoso, a fim de proteger da cobiça do maléfico homem o seu tão belo e precioso tesouro. Efectivamente, aquele enorme penedo que se vê não é mais que a moura Encantada; e ainda se pode ver o sítio onde o cavalo a atingiu. Ele é nada mais, nada menos, do que o sulco na rocha em forma de ferradura.
Um homem houve há muitos anos, que quis mostrar sua valentia, e ao mesmo tempo ficar rico para o resto da sua vida. Com efeito, numa noite de completa escuridão, e com todo cuidado, para não ser surpreendido, foi com enxadas e picaretas, em busca da tão falada fortuna.
Algumas horas, após muito ter escavado na rocha, uma voz que mais parecia um trovão, fez-se ouvir dizendo: - Homem, há muito que esperava por ti!... Todavia, pára de cavar, pois não terás a ventura de possuíres, nem sequer de completares tal tesouro!... Ele continuará aqui, por gerações e gerações, já que não há homens que não desconheçam o medo e a cobiça. Esta é a vontade da minha senhora, a moura mais linda das mouras…
O pobre do cavador, quando deixou de ouvir a voz, na obstante de estar cheio de medo, ainda encontrou coragem suficiente para perguntar: - E quem és tu que me ousas assustar? E a voz continuou: - Sou o guarda fiel do tesouro que minha dama e senhora, esconde sobe o seu encantamento.
O primeiro homem morrerá em presença de tanta beleza e riqueza; o segundo, será verdascado até ao último sopro de vida e o terceiro quebrará o encanto, e minha ama louvá-lo-á com um dos seus sorrisos, e com tanta fortuna, como aquela de que ela é possuidora.
Assim a Laje do Ouro continua a esconder o seu segredo, à espera de três homens desconhecedores do medo e da cobiça, ou melhor, de dois que queiram dar a sua vida em benefício do terceiro que ficará rico e quebrará o encanto.
Esta lenda foi recolhida por fragmentos, da boca de velhos já desaparecidos, e reconstruída por: João Guerreiro da Purificação e João Manuel Farinha.

Foto: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=540006472725004&set=o.184521331583622&type=3&permPage=1
Fonte: A Nossa Terra, João Guerreiro da Purificação, Associação de Amizade e Terceira Idade, Aldeia da Mata, 2000

Bom Dia Alentejo!