terça-feira, 22 de abril de 2014

Bom Dia Alentejo, Aldeia da Mata, a lei das migas nasceu no Crato

A lei das migas foi feita por trabalhadores do campo para eles mesmos. Também havia multas e penas leves que tinham que ser cumpridas por faltas que eles faziam à hora das refeições.
Não vou falar das migas que o trabalhador fazia para si ou para dois ou três, mas das migas para dez, quinze ou vinte homens, com preceitos a cumprir.
Faziam-se as migas numa caldeira ou num tacho, que depois de feitas ficavam na caldeira. Era esta retirada do lume e colocada em cima de uns cepos para dar mais altura.

Feito isto, e chegada a hora da refeição, os trabalhadores colocavam-se à volta da caldeira; mas o tamanho desta variava, conforme os trabalhadores a comer, e só depois de estarem nesta posição e com a colher na mão, podiam começar a refeição, mas da seguinte maneira.
Tinham de comer com o boné ou o chapéu na cabeça e só assim podiam dirigir-se à caldeira e tirar uma colher de migas, mas sempre do seu lado, e aí desse que tirasse migas do outro lado de outro colega, depois afastava-se um metro ou mais.
O trabalhador podia voltar as costas à caldeira e ir comer a colher das migas para o seu lugar, e ao acabar o que estava na colher, tornava a fazer o mesmo até ter vontade ou haver na caldeira.
Não era permitido falar perto dela.
As multas variavam.
Uns dias eram sardinhas, outros era vinho ou bacalhau, e tinham que chegar para todos comerem e beberem da multa.
Este uso era cumprido pelos trabalhadores, e muito respeitado, como se jurassem não partir a corrente que vinha dos antigos camaradas.
 
Fonte: A Nossa Terra, João Guerreiro da Purificação, Associação de Amizade e Terceira Idade, Aldeia da Mata, 2000
 
Bom Dia Alentejo