Esta igreja situada num alto, era rodeada de matos,
murtas, carrascos e alecrins, bem como sementeiras de trigo, cevada, centeio e
outras...
Dista esta de Évora, duas léguas e meia e viviam aí, nessa altura, duzentas e
vinte pessoas maiores e cinco menores; havia mais, mas estas habitavam em
terras de Montemor-o-Novo que faziam estrema com estas.
Ao redor, existiam a
norte, à distância de meia légua, S. Sebastião da Giesteira, com a sua linda
igreja e a sul á mesma distância São Brissos, onde há também uma ermida, a de
S. Francisquinho e Nossa Senhora da Conceição.
Por defronte da igreja da Nossa Senhora da boa-Fé, passa uma ribeira que divide
o termo de Évora com o de Montemor-o-Novo e que tem o nome de Ribeira da
Boa-Fé, que vai correndo para sul, para S. Brissos.
Nesta ribeira havia moinhos que moíam o pão e um lagar de azeite, que moía com
a água desta ribeira, junto à qual havia uma ponte que dava para serventia do
povo e quase todo o ano corria por ter águas nativas.
A Senhora que é de madeira estofada tem um menino no braço direito que é feito
da mesma madeira e tem na mão esquerda uma romã e na direita um baguinho que
mete na boca.
Esta milagrosa Senhora era em tempos chamada de Nossa
Senhora das Nascenças e como sempre fez muitos milagres; todos tinham uma fé
enorme nela e passaram a chamar-lhe Senhora da Boa-Fé.
Aqui acorriam todas as pessoas que queriam pedir milagres.
Conta-se que nessa altura houve em Évora e arredores,
uma grande peste e todos vieram em peso, rezar uma missa e pedir à Senhora,
pela saúde dos doentes.
Então no meio da missa apareceu um anjo com uma espada
ensanguentada nas mãos, limpando-a e metendo-a na bainha disse: “Vós sois bons,
sois crentes, por isso Nossa Senhora os curou. Vão em paz e o Senhor vos
acompanhe”.
Nesse instante todos sentiram que era verdade, estavam bons e todos a uma só
voz, gritavam: “Vós Senhora, sois a Senhora da Boa-Fé, pois só a fé nos curou”.
E foi assim que lhe foi mudado o nome.
No largo, ao pé da igreja, existe ainda um zambujeiro onde sempre
penduravam as oferendas que iam oferecer em louvor de Nossa Senhora da Boa-Fé,
Essas ofertas eram de todo o tipo: ouro, incenso, roupas, animais, havia de
tudo ali.
Nesta lenda, afirma-se por ser verdade, que uma viúva de idade, tinha uma
filha, a qual morreu ao dar à luz uma linda menina, que ficou a ser criada com
a avó, que sem posses, a ia criando com as esmolas de leite que lhe davam; mas
uma noite, já não tendo leite aconchegou a netinha ao peito e disse: “Meu
Jesus, minha Nossa Senhora da Boa-Fé, ajude-me, para que eu possa criar a minha
netinha”. Nessa altura sentiu os seios cheios de leite e foi então que criou a
menina com o seu próprio peito.
Esta igreja tem também no altar-mor, São Pedro, S. Sebastião da Giesteira, S.
Miguel e S. João Baptista.
Tem dois altares laterais onde está Nossa Senhora do Rosário, S. Brás e outro
com o Senhor crucificado e também a imagem de Santo António e S. Bento.
Fonte:
Lendas
e Tradições, EBM's de Guadalupe, S. Sebastião da Giesteira
e Valverde, págs. 19-20, Évora