Segundo a tradição este culto teve origem na
vila das Águias, mais propriamente no lugar de Brotas da Barroca, que se
encontrava naquela altura completamente inabitável por ser extremamente húmido
e constituído por uma grande cova cercada de ribanceiras, que a toponímia local
designou de Inferno, Inferninho e Purgatório.
A lenda conta que
enquanto um pastor guardava ali a sua vaca, esta por descuido escorregou e foi
estatelar-se morta no fundo dessa cova.
Quando se apercebeu do sucedido, o
pastor desprovido da sua principal fonte de rendimento para sustentar a sua
família, confiou à Virgem o seu desgosto, implorando-lhe proteção.
De seguida
começou a esfolar o animal e já depois de lhe ter cortado a pata que se tinha
partido com a violência da queda, apareceu-lhe a Virgem Santíssima que lhe
recomendou serenidade e pediu que fosse dizer aos moradores das Águias para lhe
construírem ali uma capela e disse que assim que voltasse encontraria a vaca
viva.
O pastor assim fez e
quando regressou àquele local com os seus conterrâneos, a vaca já andava a
pastar como se nada tivesse acontecido e da pata que lhe havia sido cortada
apareceu feita uma imagem da virgem.
Pouco antes de 1424
ali se ergueu a ermida, como simples comenda da Ordem Militar de São Bento de
Avis e dependente da vila das Águias. E a imagem da Nossa Senhora de Brotas ali
foi conservada, com cerca de um palmo e feita de osso, harmonizando-se
perfeitamente com os dados da tradição.
Uma ocasião, um
pastor que andava a guardar vacas, deu com uma vaca morta, caída numa barroca,
no sítio onde hoje está a igreja. Como não podia perder tudo, começou a
esfolá-la para lhe aproveitar o couro. Já lhe tinha cortado uma mão, quando lhe
apareceu uma Senhora, que lhe pediu que fizesse ali uma capela dedicada a Ela.
Conta-se que o homem fez a imagem da Senhora, do osso da mão da vaca e que esta
se levantou curada. O homem ficou pasmado e foi a correr contar a novidade à
Aldeia das Águias. Todos correram a ver o milagre, levantando-se logo uma
ermida, onde puseram a tal imagem de Nossa Senhora da mão da vaca.
Fonte:
Joaninha Duarte, A Luz da Cal ao Canto do Lume Lisboa, Colibri, 2009 , p. 265