"Do estudo -
Temas Etimológicos - inserto no Boletim de 1976 do C.D.C.R., do já consagrado
Toponimista António Augusto Batalha Gouveia, vamos transcrever o que escreveu a
respeito de Alpalhão.
"Se o topónimo
ALPALHÃO mantém intactos raízes primitivas e tudo parece indicar que sim, então
posso adiantar que o mesmo procede das vozes anteriores AR-BAR-UM modificar nas
variantes diacrónicas AL-BAl UM, AL-BAL-OL e AL-PAL-ON.
Vou seguidamente
examinar cada um dos morfemas inclusos na locução ARBARUN.
A voz AR que por vir
do abrandamento de vibrantes se sonorizou, AL, denominava, num remoto estado
linguístico, o ESPÍRITO ou a ALMA.
O morfema BAR remonta
à voz semítica BA, cuja a aspiração vocálica foi com o advento da escrita
notada pelo signo correspondente ao nosso H e daí a grafia BAH.
Este BAH sofreu
diversas mutações fonéticas decorrentes da referida aspiração surgindo assim os
cognatas BAR, BAL, etc.
Na sua passagem para
o indo-europeu a labial sonora B permutou com a surda P, originando deste modo
os cognatos PAH (em que o "h" tem aqui o valor fonético notado pelo
"êta" (grego) PAR, PAL, etc....
O BAH semítico
denominava simultâneamente o PAI divino e o MAR. O vocábulo árabe para
"mar" apresenta, no nosso alfabeto, a grafia BAHR.
Caso particularmente
interessante é o dos vocábulos portugueses "mar" e "mãe"
provirem da mesma raiz indo-europeia MAH significativa de "Grande".
Quer isto dizer que a
grafia actual "Pai" com "i" carece de apoio etimológico,
porquanto este nome evoluiu paralelamente à voz "MÃE".
Foto: bloggerdalucelinha.blogspot.com
O morfena Turano
indo-europeu UN, que representava a voz original "U" significativa de
"Primogénito divino", "Filho de Deus" e "Homem"
sofreu várias fonatações fonéticas filhas do génio próprio de cada idioma, passando
a soar OM em sânscrito e On nas línguas germânicas. Do OM em sânscrito
derivaram os gregos a palavra "OMOS" (o mesmo), espécie que os
latinos importaram para com ele denominarem a nossa e (Homo, port. Homem).
Os vedas conservaram
a voz Un, como se pode verificar no livro 10-129 do Rig-Veda que verto para
português:
"No princípio
não existia o ser nem o não ser;
Não havia espaço nem
firmamento.
Qual era o seu
conteúdo? Onde estava e quem o guardava?
O que era a água
profunda, a água sem fundo?
NEM a morte nem a não
morte existiam nesses tempos;
Nem sinal distinguia
a noite do dia.Encerrado no vazio, o "UN" respirava mutuamente; As
trevas envolviam as trevas".
Sendo o BAR o
"Pai" ou o "MAR" e UN o primogénito divino gerado pelo
"mesmo" resultou daqui a arcaica concepção religiosa, e ainda
vigente, de que Deus e o Homem, o Pai e o Filho, eram duas naturezas numa só e
que ligados pelo Espírito consubstanciavam as três essências divinas, isto é,
tornaram-se ao mesmo tempo no Deus Uno e Trino.
Quando a crença nas
divindades marinhas cedeu perante o panteão celeste, a direcção UN confundiu-se
com a voz AN, outro cognato de "ESPIRÍTIO" que passou a apelidar o
Deus do Céu assírio-babiliónico.
Os gregos formaram a
palavra "homem" prospondo a voz AN a raíz asiânica THUR (um dos
cognatos do nome "DEUS" : DIUR, DIUSS, DEUS) que corrompida por
metátese se transformou em THROS e daí a dupla direcção ANTHROS e ANDROS
(Espírito de Deus).
Foto: edeilzainacio.blogspot.com
A voz cognata de
ANTHROS, ANTHOS, que primitivamente tinha o mesmo significado, foi empregado
pelos gregos para denominar a "FLORA"entrando o onomástico lusitano
sob as formas equivalentes ANDO e ENDO.
Esta última foi
anteposta ao tema latino Bélico ou Vélico (guerreiro) passando a apelidar o
deus lusitano Endobélico ou Endovélico (Espírito de Deus guerreiro) corresponde
ao Ares Grego, ao Marte romano e ao português S. Jorge.
Endobélico ou
Endovélico era, entre nós, um deus tópico, isto é, o seu culto circunscrevia-se
a uma área geográfica que tinha ALPALHÃO no seu aro. Situava-se o seu santuário
no Monte de S: Miguel da Mota, perto de Alandroal.
Este último topónimo
é revelador do "ubi" de Endobélico, dado que Alandroal decompõe-se
nas vozes AL-ANDRO-AL, sendo este o sufixo designativo de "Terra "
"Campo" "Área" "Recinto", etc., logo Alandroal encerra
a significação primitiva de "Terra de Espírito de Deus Guerreiro",
Endovélico, tal como Jeová era o "Senhor do Exército Lusitano".
Resumindo tudo quanto
venho de dizer, temos que o toponómio ALPALHÃO procede de voz anterior, a qual
corresponde a significação etimológica do "ESPIRITO DO PAI E FILHO
DIVINO", ou o que é o mesmo "ESPÍRITO DE DEUS".
Fonte: Alexandre de
Carvalho Costa, Nisa e suas Freguesias Rurais